MEU AMIGO TREZE.
Eu morava á alguns quarteirões de onde tenho casa hoje.
Naquele tempo se morria de velhice aos trinta anos.
Criei-me brincando com um amigo, órfão de pai, ele vivia com a mãe e mais 15 irmãos.
Tamanho o número de filhos obrigava-a a numerá-los .
Este meu querido amigo, era o décimo terceiro, assim sendo, era conhecido por todos por Treze.
De família muito pobre, as refeições matinais em sua casa nunca variavam, sempre o desjejum de todos eram dois ou três pratos de angu com leite, já no almoço e janta, arroz,feijão,ovo frito, aipim,menos pedra, porque era ruim de mastigar.
Ele já naquela época destacava-se dos demais garotos, um negro, bonito,forte,alto, e com uma educação aguda.
Quando passávamos pela frente de sua casa, acaso sua mãe estivesse pregando alguns sarrafos em sua velha cerca, era uma evidência de que os irmãos acabaram de resolver mais um dos tantos conflitos familiares.
Crescemos, mas nossa amizade continuou, eu trabalhava como despachante de trânsito, fazendo todo o tipo de trabalho junto a policia civil ...ele trabalhando como segurança em uma casa noturna, famosa na cidade.
A imagem do treze à porta da boate era assustadora, quem não o conhecesse impressionava-se, o cara era grande e forte, suas mãos eram verdadeiras raquetes.
Numa destas ocasiões, dois policiais militares à paisana, confiando-se na sorte,tentaram adentrar o recinto sem pagar. Ele então, seguindo ordens que tinha os barrou.
Os PMs, sem gostarem muito, avisaram:
-Amanhã, estaremos de serviço viremos fardados e aí conversaremos, aguarde.
Ele, em sua calma característica, nada respondeu.Na noite seguinte, chegam os PMs fardados, e sem aviso algum, começaram a lhe batercom cacetetes, provocando-o para que reagisse, no entanto, ele apenas sussurrava:
-Não bato em homem fardado! não bato em homem fardado!
Naquela época você podia tudo, menos encostar em uma farda, fazê-lo era como assinar uma sentença de morte. Mas se estivessem sem farda...
Certo dia, o Treze, em uma de suas folgas, lançava sua tarrafa a beira da lagoa, feliz com o resultado de sua pesca,que por certo tiraria da rotina o seu cardápio, viu que ao longe vinham remando dois homens em sua direção.
Para sua surpresa e satisfação, eram os dois PMs, que fora de serviço, também tiveram a infeliz idéia de pescar.
Mal a canoa deu de proa na areia, os PMs sentiram faltar chão a seus pés.
Não conseguiram ao menos tentar uma fuga a nado.
A coisa decorreu tranqüila, mais ou menos previsível:
o Treze batia,e eles apanhavam, simples assim!.
Na delegacia, já devidamente medicados os PMs,que não puderam acompanhar a condução do Treze,por motivos óbvios, o inspetor de plantão preparava-se para fazer o Boletim de Ocorrência,quando adentra o Delegado e toma ciência dos fatos, presentes e passados.
O delegado encara o Treze, e calmamente lhe diz:
-Você não tem vergonha covarde?...quer dizer então,que o Estado monta uma verdadeira operação de guerra para selecionar estes homens, dá-lhes alojamento,comida, treinamento de defesa pessoal,tiro, gasta uma banana para tornar estes agentes públicos aptos a zelar pela segurança do cidadão e seu patrimônio, e vem você e enche os coitadinhos de porradas,e os larga em trapos num hospital?...você não se envergonha?
O delegado volta-se para os dois PMs e pergunta:
-Vocês vão fazer a ocorrência não é?...vão noticiar uma covardia destas, ou vão deixar barato?
Os PMs a esta altura, já sem saberem onde colocar suas caras:
-Não delegado, não precisa ocorrência, acho que o susto que o senhor deu foi o suficiente.