Neruda (?) e o bicho esquisito...
Li que Neruda escreveu esse poema (como há muitos apócrifos circulando por aí atribuídos a tantos, só afirmo que é quanto localizo livro, edição...), declarando sua perplexidade diante de tantas contradições da mulher. E é verdade também que muitos dizem que compreender a alma de uma mulher seria o décimo terceiro trabalho de Hércules...
Vamos combinar que os papéis sociais que nos são exigidos nem sempre são desempenhados a contento e não há nenhum demérito nisso, apenas constatação pura e simples de que não somos obrigadas a possuir todos os talentos, todas as “habilidades e competências” exigidas pelo “deus mercado”, pela sociedade e também pela cobrança interior...
"O bicho esquisito que todo mês sangra" tem lá suas fases... mais que bunda e peito, mais que mãos para os afazeres, mais que disposição para a fofoca , mais que "queda" para morrer de amor...mas, “Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão”...
Somos, principalmente, a soma de nossas escolhas, nem sempre virtuosas, perfeitas, pautadas na razão e na lógica.Somos humanas e, só por isso, já mereceríamos todos os sentimentos elencados em todas as homenagens. Aceitar, intimamente a condição limitada de SER humano não é tarefa fácil.Nem para Hércules, que era meio deus...
Li também que havia uma última estrofe, mas a editora cortou porque considerou pesada demais, agressiva demais, para a época...Eis a estrofe:"Elas mexem nos cabelos quando querem amar, mas depois de casadas só cozinham sopa de ervilhas."
Pesada? não sei..mas que é pura provocação lá isso é...
E Rita cantou lindamente... "não provoque, é cor de rosa choque...”
E mais " Toda mulher quer ser amada/Toda mulher quer ser feliz
Toda mulher se faz de coitada/Toda mulher é meio Leila Diniz...”
Contraditória, de alma exposta ou esquiva, silente ou barulhenta “TOMARA QUE SEJA MULHER!”E aos homens e mulheres que, diuturnamente, celebram a vida, que a importância de quem somos ultrapasse datas, festejos...e que a poesia da vida nos alcance... sempre!!Obrigada, pelo carinho!
Ao poema, enfim!!!
Mulheres
Pablo Neruda
Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.
Elas brigam por aquilo que acreditam.
Elas levantam-se para injustiça.
Elas não levam "não" como resposta quando
acreditam que existe melhor solução.
Elas andam sem novos sapatos para
suas crianças poder tê-los.
Elas vão ao médico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente.
Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prêmios.
Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversário ou um novo casamento.