15 anos

Os ponteiros do relógio estavam prestes a completar meia-noite enquanto Jéssica deitada em sua cama com os olhos fechados pensava em como sua vida era vazia.De seu quarto ouviu bem baixo as doze badaladas do grande relógio que a mãe mandara a criada colocar na sala de visitas, abriu seus grandes olhos negros e sussurrou: "Parabéns pra mim".

Já era 19 de Setembro e ela estava completando 15 anos. Segundo sua mãe, ela nascera exatamente á meia-noite.

Virou o rosto para ver o vestido imenso que fora criado pela melhor estilista da alta sociedade para a grande festa que estava sendo preparada e sorriu ao pensar que parecia um árvore de natal dentro dele:

-Você está linda meu amor!!! - Disse a mãe que orgulhosa a olhava como se visse uma miragem - Jess, querida, você está virando uma mulher!!!

Jéssica contemplou sua imagem no espelho e mesmo não estando de acordo com a opinião de sua mãe, faria tudo para que ela se sentisse bem e feliz:

-É...Ficou muito bonito mesmo. - Meio tímida,a menina deu um sorriso e ao entrar novamente no provador para despir-se , ouviu do lado de fora sua mãe escolher o sapato perfeito para combinar com ele. Sorriu novamente e pensou em como sua mãe era cuidadosa com ela.Talvez possessiva.

Jéssica era uma garota que nunca em sua vida soube o que era a pobreza.Sempre tivera a melhor educação,as melhores roupas,criados e babás ao seu redor a todo o instante e um pai milionário.

Guilherme era um empresário bem sucedido e envolvido em assuntos políticos.Raramente dormia em casa e desde cedo Jess, mesmo não entendendo muito bem, via a tristeza nos olhos de sua mãe cada vez que ela o esperava para o jantar e ele não aparecia.

Nunca ouviu uma briga entre eles, porém por diversas vezes sentiu-se um estorvo quando em um jantar qualquer, nenhum dos dois pronunciavam uma palavra um ao outro.

Já estava acostumada com esta situação e sabia que não poderia mudá-la.

"Talvez por isso mamãe é tão apegada a mim".

Jéssica jamais reclamara das atitudes possessivas de sua mãe até poucos dias atrás, quando a mesma a proibiu de ir á casa de uma de suas amiguinhas do colégio:

-Você não vai e pronto.-Dizia a mãe alterada

-Mas, mãe, não terá problema algum e além do mais, elas sempre me convidam e eu nunca fui.Por favor mamãe, eu juro que volto cedo.

-Não e pronto, e além do mais hoje é o dia da visita a tia Mari.Você sabe muito bem que já haviamos combinado.

As visitas á tia Mari eram feitas todas as segundas-feiras e Jéssica já não aguentava mais ter que ir.Os assuntos não eram pra ela e além do mais se sentia muito sozinha (como em toda sua vida)

Nesse momento Jéssica olhou no relógio e viu que já passava da meia-noite e meia.Levantou-se de sua cama e ouviu os passos da mãe pelo corredor da casa.

-Ainda não dormiu filhinha?- Jéss observou nos olhos da mãe que ela havia chorado e perguntou.

-Papai não veio né???

A mãe olhou para ela surpresa com a pergunta e falou:

-Não.Ele telefonou e disse que a reunião terminou muito tarde, mas não se preocupe meu bem, amanhã ele estará aqui para a sua festa.

Jéssica sorriu quando a mãe cobriu-a e beijou-lhe a testa:

-Parabéns filha...Eu nem acredito que você está crescendo.

-Obrigada mamãe...Estou crescendo e um dia eu serei adulta.- A mãe a olhou com um olhar assustado então ela continuou - Mas eu sempre estarei com você.Eu nunca vou deixá-la sozinha.

As lágrimas deslizaram pelo rosto solitário da mãe que a abraçou e disse:

-Ah, minha filhinha, eu quero estar com você sempre!!!

Jéssica suspirou e pensou que enquanto o vazio que existia dentro de sua mãe não fosse preenchido, ela nunca iria crescer.

Viu quando sua mãe saiu de seu quarto e adormeceu, sonhando com sua festa de 15 anos.

Deia Tumenas
Enviado por Deia Tumenas em 29/04/2006
Código do texto: T147550
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