SE MEU FUSCA PRESTASSE.

Meu filho chegou em casa com um opala 76, sorrindo de orelha á orelha.

Dizem que rico ri a toa, mas só pobre, da desgraça.

-Que que tu achou,pai?

-Compraste também, o posto de gasolina?!

-Pô pai, tu só esculhamba!

Acho que ele tem razão afinal, também já tive 21 anos.

Estou sempre atento ao meu tempo, por isso sei que hoje em dia é moda comprar carros velhos, para restaurá-los ou transformá-los.

Se você não tem um, paga um mico, como dizem. Engraçado é que em meu tempo, quem tinha um parecia pagar promessa, isto sim.

Não se comprava carro aos pedaços por hobby, comprávamos por necessidade ou falta de opção.

Na idade dele, já casado, comprei meu primeiro veículo, fabricado no ano de meu nascimento, o que já foi uma façanha á época.

Equivalia ao quase zero. Lá estava eu, fechando negócio orgulhoso. Finalmente em 1985, comprava meu primeiro carrinho: um fusca 64, 1300, 12 V, vermelho. Tudo funcionando perfeitamente, até o vendedor picareta ,entregar-me as chaves e apertar-me a mão. Depois disto meu amigo!!!

Porta para fechar só a chute. Apertava o acendedor de cigarros, cortava a corrente. Ligava o rádio, não funcionava o limpador de para brisa. Ligava o limpador de para brisa, queimava a entrada do rádio. Buzinava, torrava o relé do pisca.

Bastava uma freada mais forte, lá ia eu, catar no chão, os aros dos faróis e a Haste do limpador de para brisa.

O motor batia tanto, que parecia fabricado pela Singer. Para me encontrar, bastava seguir o rastro de óleo.

Quando o arranque virava, minha mulher e eu, abraçava-nos e chorávamos de felicidade.

Um verdadeiro carro ecológico, tamanha quantidade de bacalhaus nos pneus, e pula macaco nas velas.

Mas o pior mesmo era em dia de chuva...Credo!!!

Enquanto eu dirigia, minha esposa esgotava a água de seu interior com uma latinha de massa tomate.

Foi exatamente em um destes dias de intensa chuva, que minha esposa combinara de passar em casa de uma de suas tias, para juntos almoçarmos com seu pai no sítio.

A tia de minha esposa, tinha formas exageradas, seu corpo era basicamente formado por substância adiposa, ou seja, uma forte candidata a obesidade mórbida. Fazê-la sentar na parte de trás do veículo, já foi algo deveras laborioso.

Concluída a árdua tarefa, lá fomos nós, enfrentar 30 Km de estrada de chão batido, que nem tatu usando chuteira passava, em meio a uma chuva torrencial.

No trecho mais problemático, onde qualquer erro ou parada, significaria o fim do passeio, a quantidade absurda de lama e buracos, fazia a tia saltitar no banco traseiro, o que despertava em nós sorrisos até que...

Bem, antes porem, tenho de dizer o que um cidadão que tem um fusca, não pode fazer de maneira alguma, quando limpa-lo por dentro.

A bateria fica muito próximo as molas do assento traseiro, convém então, jamais tirar-se o protetor de borracha dos pólos da bateria. Foi justamente, o que achando que não houvesse serventia para nada, retirei.

Em um destes saltitares,ao descer, o peso monstruoso da nossa tia, fez as molas cederem, ocasionando um curto-circuito, que por sua vez, transformou-se em línguas de fogo.

Ela ao tentar levantar-se aos gritos, encontrava a barreira do banco dianteiro e tornava a sentar com força, ocasionando outro curto-circuito, mais barulho, mais faísca, de formas que aquilo, tornou-se um circulo vicioso: faísca, grita,tenta levantar, bate no banco volta, senta faísca, grita...

Tudo isto,justo em um momento que eu não podia parar de jeito algum,era atolamento na certa.

O desespero tomava conta de todos, minha esposa com os olhos que eram um pires, era só gritos. Sua tia, naquele senta levanta frenético em meio a línguas de fogo já era só goela.Eu não sabia o que fazia,se dirigia,se tentava desvencilhar-me da tia,que para erguer seu corpo,deu de mão em um maço generoso de meus cabelos,quase tirando-me o escalpo,ou de minha esposa, que me apertava com duas mãos e chacoalhava a tábua do pescoço,me deixando a beira de um desmaio. Era tanta faísca que parecia relampear dentro do fusca.

Passado o susto, já no sitio, nossa tia, não perdeu a oportunidade:

-Se o almoço for churrasco, fico de mal com vocês!

João Bravo
Enviado por João Bravo em 08/03/2009
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