ESTEPE DE VIATURA.

Quem pensa que as coisas que conto aqui são invenções, de minha mente fértil e doentia engana-se.

Sempre fui o que entendeu-se convencionar de “figura folclórica”. Sempre otimista e brincalhão, de tudo faço piada mas, “pavio curto”.

Se me tirassem do sério, pronto!!!...Lá ia eu, ouvir longas explicações filosóficas, por parte do delegado de plantão, da função social da Policia Civil, frente a realidade política do Rs.

Culpa em parte a cultura Gaucha, onde homem não chora e nem leva desaforo para casa.

Isto além de prejudicar-me nas relações com os diferentes, ainda causava-me um doloroso conflito interno do tipo:

-Será que eu sou fora da casinha?

Além é claro, de me render o sugestivo apelido de “estepe de viatura”.

Comecei a mudar,quando senti na carne que, uma palavra pode ferir mais que a espada, ou, um Gaucho aloprado.

Estava eu, em uma destas intermináveis filas de banco, para pagamento de algumas contas, exercitando todo meu auto-controle já a uns 45 minutos, em transe, já vendo pêlos de nuca tomarem as mais variadas formas, prestes a baixar o “caboclo quebra-tudo”, em um terrível dia de verão.

Naquele dia eu utilizava o cartão de minha esposa, o que não para mim não era problema, pois conheço a todos naquele banco, quer dizer, menos o reforço de verão, e foi justamente um desta leva, a quem tocou atender-me.

A frente do caixa dei-lhe o cartão e as contas.

Ele pegou-o ,fitou-me com profundo sentimento de que, tipos como eu, eram o motivo de seu verdadeiro ódio ao atendimento ao público e disse-me:

-O senhor é Pamela Cristina?

Normalmente, nas contas de minha vida, eu colocaria isto na coluna dos enganos, mas, ao perceber que o canto esquerdo de seus lábios elevaram-se, no que me pareceu naquele instante um sorriso de deboche, respondi-lhe:

-Tchê,tu comeu merda quando era pequeno?

-Tá me achando com cara de veado?

Ele calmamente, com a paciência de um franciscano, devolveu-me o cartão entre as pontas dos dedos indicador e médio, olhando-me por sobre os óculos, e respondeu:

-Para sua primeira pergunta é não!

-Para sua segunda, posso não responder?

Detesto que riam de mim, principalmente uma fila de banco inteira!

João Bravo
Enviado por João Bravo em 08/03/2009
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