O TAL DO MANUAL
Depois da globalização, tudo se multiplicou, se aperfeiçoou e também muita coisa se desqualificou. Mas nem é disto que quero falar. Apenas uma introdução para dizer que é MUITO CHATO LER MANUAL de qualquer coisa que seja. E tudo tem manual: eletrodomésticos, eletrônicos, automóveis, computadores, móveis e utensílios em geral. Menos casamento e filhos. Qualquer objeto adquirido que tenha mais que uma função, lá está o manual de no mínimo três páginas. A gente tem que ler e praticar. Se não lê tudo, também não otimiza toda funcionabilidade do objeto, ou corre o risco de usar errado, estragar logo e até perder a garantia.
Minha resistência à leitura de manuais tem me prejudicado muito, tanto econômica como emocionalmente. A ansiedade de fazer o objeto adquirido funcionar estimula os “cortes” na leitura. Estes, por sua vez, desencadeiam uma série de ‘mau uso’ do objeto e o mau uso do objeto vai acabar causando danos e estes podem repercutir na conta bancária. Enfim, é uma sucessão de fenômenos periódicos que até já me induziram a rasgar o manual. Depois vem o arrependimento, a culpa! Manual não lido, perdido ou rasgado, objeto de uso restrito. Já pensei em fazer uma terapia comportamental, para me conhecer melhor e tentar descobrir porque não gosto de ler manuais. Afinal, sou escritora e leio muito, de tudo. Menos manuais! Talvez Freud ou seus sucessores pudessem explicar melhor. Há mais de dois anos desejo adquirir uma câmera fotográfica digital. Ainda não comprei, não por falta de dinheiro, mas por causa do manual. Esses dias, depois de um ano com o mesmo aparelho celular, descobri uma função que ele tinha e eu ‘ansiava ter um aparelho que tivesse’. Tudo porque não li o manual por completo.
Faz-me mal, muito mal, este tal de manual. No dia que inventarem um para educar filhos e manter casamentos sólidos e harmoniosos vou ler de cabo a rabo, decorar e praticar para não errar nunca ou o mínimo possível. Neste caso, um manual carece e faz bem.