Caro Bento
Oi, como esta tudo em ordem e na santa paz de Deus? Desculpe-me a demora em escrever-lhe, mas você sabe como é acontece tanta coisa que acabei esquecendo. Até parente morreu, que deus a tenha. Aqui chegou o inverno, mas Brasília é terrível sai o calor e entra a secura, já perdi a quantidade de dias que não chove. E o fogo já permeia por todos os lados, é a tal da cultura do taca fogo no mato pra aliviar a enxada, e se planta assim semeando o que comer as custas do meio ambiente, vai fazer o que? Não demora eles acabam com isso, pior é a ponta do cigarro que espalha em brasa o destino a que veio, dor e sofrimento.
Deixa pra lá, mas o que me apetece de lhe contar foi o pega-pra-capar aqui na rodoviária, briga de camelô. Um que não tinha dois dedos cobriu o outro de bolacha. Merecido, foi xingado. Espia só, estavam resolvendo tudo numa boa. Mas na hora que chegou os finalmente da discussão o cara chamou o outro de aleijado, e pra completar a ofensa, aleijadinho. Se atracaram até chegar a policia, que deu toda razão pro ofendido. Afinal chamar um deficiente físico de aleijado é pedir um safanão.
Me lembra a estória de um camarada de uns tempos atrás. Sofreu com a tal da lepra, hoje hanseníase pra diminuir o preconceito, naqueles idos principalmente no interior se morria a míngua com essa danada que ia atacando o corpo e provocando amputações. Mas um camarada lá em Ribeirão preto era um artista, e quando não tinha mais os dedos amarrava as ferramentas no que sobrou de suas mãos para talhar. Doente carcomido pelas chagas, não se abateu e criou esculturas que é hoje referencia do barroco brasileiro, tem até uma mostra de sua arte aqui.
Eu não sei porque o ofendem tanto o chamando de aleijadinho, afinal nos presenteou com sua arte e determinação um exemplo a ser seguido. Acho que o coitado deve estar se revirando na cova de tanta raiva. Gente mal agradecida, aleijadinho é demais. E pra completar nem o nome dele é lembrado. Eu vou encerrando por aqui, assim que tiver novidades te escrevo. Ah! Antes que eu me esqueça você sabe o nome dele?
Um abraço, Galvão.
DiMiTRi
11/6/2007 18:40