AO MAR.
Conversa Íntima II.
_ Vá!
_ Não sei se vou!
_ Você quer ir.
_ Querer apenas não resolve.
_ E quem está falando em resolver?
_ Você.
_ Eu, não. Estou falando em viver.
_ E por acaso estou morta?
_ Acha que só porque está respirando está viva? Viver é mais do que isso.
_ Eu sei .
_ Não parece.
_ Por favor, não me inquiete.
_ Ah, se está inquieta está querendo ir.
_ Eu não quero ficar inquieta. Estou bem assim.
_ Parece uma paisagem .
_ Isso é um elogio?
_ Depende. Se ser paisagem lhe agradar...
_ Talvez, sim.
_Que tédio!
_ O que você chama de tédio eu chamo de paz.
_ Se você ficar nessa paz eu perco minha função.
_ Sinto muito. Aliás, você deveria aproveitar e tirar férias.
_ Enlouqueceu?
_ Não. A louca aqui é você.
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_ E então? Hoje você não parece paisagem.
_ Você de novo?
_ Eu estive aqui durante todo o tempo que você não me viu.
_ Às vezes me envolvo tanto que não distingo sua presença.
_ São nesses momentos em que estou mais presente.
_ Já sabe então que o tédio se foi.
_ Sei e lhe vi vivinha da Silva.
_ Bota vida nisso.
_ Parece que estamos nos entendendo. Mas, a outra ainda lhe enche de "conselhinhos".
_ É a função dela.
_ E lhe provoca conflitos.
_ Estou trabalhando isso.
_ Então, decidiu ir?
_ De certa forma já estou lá.
_ E está gostando?
_ Claro que sim.
_ Então, erga a âncora e se entregue ao mar.
_ Mar ou ar?
_ Fazendo graça. Que bom!
_ Você conhece meu lado afoito. É você quem rege ele.
_ Vibro quando você o aceita.
_ Eu também, mas ainda faltam detalhes.
_ Deixa que a outra resolve.
_ Estou deixando.
_ Então, boa noite.
_ Obrigada. Tenho tido noites ótima.
_ Vou indo.Tchau.
_ Tchau.
_ Ah, me enganei quando falei que você não tinha cara de paisagem hoje.
_ Foi?
_ Sim.Você está com cara de mar. Ora bravio. Ora em ressaca. Mas gosto de ver.
Evelyne Furtado.