Telefonaram para você.
Escrever um livro não é difícil. Não quando você sabe que é um escritor, que você nasceu com o dom. Mesmo que os outros não achem isso, você sabe e é o que importa. Difícil é o resto. E caro. Alguém vai ter que corrigir seus erros ortográficos. Depois imprimir e encadernar várias cópias. E enviá-las. Para a Biblioteca Nacional, para registrá-lo garantindo os seus direitos sobre a obra. Para que ninguém a roube. Outras para as editoras. Só para algumas. Você seleciona aquelas que têm mais a ver com o seu perfil. Ou aquelas que você acha mais importantes. E só para garantir ainda envia algumas para editoras pequenas e desconhecidas. E fica esperando. A ansiedade é grande. Muito grande. Quando o telefone toca seu coração estremece. Abre seus e-mails várias vezes ao dia, vigia a passagem do carteiro e, com tanta pressa, vai esperá-lo na esquina. E as cartas, os e-mails, os telefonemas vão chegando. Nada. Recusas padronizadas e formais. Você vai riscando a sua listinha de editoras com uma caneta vermelha e forte. E a listinha vai diminuindo. Quantas restam? Duas ou três. A esperança é sempre a última que vai embora. Mas a esperança já arrumou a mala e em um ou dois dias, não haverá mais nada. É então que acontece:
Uma noite você chega em casa. Resistiu o dia todo. Não abriu seus e-mails. Não esperou o carteiro chegar. Mas, mal entrou alguém lhe diz. “Telefonaram para você hoje a tarde”. Quem? A pergunta é feita baixinho, com medo de ouvir a resposta. “Uma Editora, esqueci o nome.” E o que queriam? “Não disseram, mas vão ligar outra vez. Seu coração acelera. Para. Desaba. A esperança retorna com toda força. Você nem consegue dormir. Levanta-se cedo e não vai trabalhar. Avisa que está doente. Senta-se junto ao telefone disfarçando que não está ali por causa dele. É o lugar mais fresco da casa, treina uma resposta para dar, caso alguém pergunte. Está com uma revista aberta, de cabeça para baixo. E nem nota. Quando o telefone toca, dispara. Vai atender e volta cabisbaixa para o sofá tendo despachado o interlocutor às pressas, deixando-o sem entender nada. E assim vão se sucedendo os telefonemas até que enfim o tão esperado chega:” Alô, aqui é da Editora Hope, a senhora Marilim Fernandes está?”Pensou que fosse perder a fala, mas conseguiu balbuciar. S-imm, so – u eu. “Senhora Marilim nós queríamos lhe parabenizar. Acaba de ser premiado com uma assinatura de nossa Revista Mensal Bochicho. Basta nos mandar ...Senhora Marilim, senhora Marilim, o que está acontecendo, que barulho é esse? Podem acreditar, o telefone da Editora ficou bloqueado uma boa meia hora. Até a nossa personagem acordar do desmaio e ainda tonta recolocar o telefone no gancho.
Escrever um livro não é difícil. Não quando você sabe que é um escritor, que você nasceu com o dom. Mesmo que os outros não achem isso, você sabe e é o que importa. Difícil é o resto. E caro. Alguém vai ter que corrigir seus erros ortográficos. Depois imprimir e encadernar várias cópias. E enviá-las. Para a Biblioteca Nacional, para registrá-lo garantindo os seus direitos sobre a obra. Para que ninguém a roube. Outras para as editoras. Só para algumas. Você seleciona aquelas que têm mais a ver com o seu perfil. Ou aquelas que você acha mais importantes. E só para garantir ainda envia algumas para editoras pequenas e desconhecidas. E fica esperando. A ansiedade é grande. Muito grande. Quando o telefone toca seu coração estremece. Abre seus e-mails várias vezes ao dia, vigia a passagem do carteiro e, com tanta pressa, vai esperá-lo na esquina. E as cartas, os e-mails, os telefonemas vão chegando. Nada. Recusas padronizadas e formais. Você vai riscando a sua listinha de editoras com uma caneta vermelha e forte. E a listinha vai diminuindo. Quantas restam? Duas ou três. A esperança é sempre a última que vai embora. Mas a esperança já arrumou a mala e em um ou dois dias, não haverá mais nada. É então que acontece:
Uma noite você chega em casa. Resistiu o dia todo. Não abriu seus e-mails. Não esperou o carteiro chegar. Mas, mal entrou alguém lhe diz. “Telefonaram para você hoje a tarde”. Quem? A pergunta é feita baixinho, com medo de ouvir a resposta. “Uma Editora, esqueci o nome.” E o que queriam? “Não disseram, mas vão ligar outra vez. Seu coração acelera. Para. Desaba. A esperança retorna com toda força. Você nem consegue dormir. Levanta-se cedo e não vai trabalhar. Avisa que está doente. Senta-se junto ao telefone disfarçando que não está ali por causa dele. É o lugar mais fresco da casa, treina uma resposta para dar, caso alguém pergunte. Está com uma revista aberta, de cabeça para baixo. E nem nota. Quando o telefone toca, dispara. Vai atender e volta cabisbaixa para o sofá tendo despachado o interlocutor às pressas, deixando-o sem entender nada. E assim vão se sucedendo os telefonemas até que enfim o tão esperado chega:” Alô, aqui é da Editora Hope, a senhora Marilim Fernandes está?”Pensou que fosse perder a fala, mas conseguiu balbuciar. S-imm, so – u eu. “Senhora Marilim nós queríamos lhe parabenizar. Acaba de ser premiado com uma assinatura de nossa Revista Mensal Bochicho. Basta nos mandar ...Senhora Marilim, senhora Marilim, o que está acontecendo, que barulho é esse? Podem acreditar, o telefone da Editora ficou bloqueado uma boa meia hora. Até a nossa personagem acordar do desmaio e ainda tonta recolocar o telefone no gancho.