MEU AMIGO ANTONIO, MÃE EXTRAORDINÁRIA

Nos tempos atuais não é tão incomum saber-se de homens que, sozinhos, desempenham o papel simultâneo de pai e de mãe para seus filhos. Há vinte anos, tal fato não era tão usual e, quando ocorria, certamente causava muito incômodo às mentes mais convencionais

Não vejo meu amigo Antonio há bem uns oito anos. Seu filho Bruno deve ter, hoje, quase 22.

Quando Bruno tinha cerca de dois meses, foi sumariamente abandonado pela mãe. Antonio, o marido, viu-se de repente só, com um bebê nos braços. Lembro-me, como se fosse hoje, dos domingos em que ia almoçar conosco, com o Bruno "a tiracolo" e a indefectível sacola com todos os apetrechos de que uma mãe previdente necessita.

Antonio, engenheiro, pediu demissão do trabalho para se dedicar, em tempo integral, ao ofício de mãe, pai e dona-de-casa. Durante quase um ano, viveu de economias, até poder colocar o filho na creche. Nesse meio tempo, trocou-lhe todas as fraldas, preparou-lhe todas as mamadeiras e papinhas, passou noites e noites em claro em consequência das dores de garganta e de ouvido do seu querido pimpolho. Nesse tempo todo, apenas contou com a ajuda de uma mulher que vinha, dia sim dia não, fazer a faxina e tomar conta de Bruno quando ele, Antonio precisava ir aos bancos, às compras e, eventualmente, a alguma diversão que, afinal, ninguém é de vidro blindado.

Depois que Bruno começou a frequentar a creche, Antonio pode voltar ao trabalho como engenheiro. Conheceu algumas mulheres, mas não quis se casar novamente; desse modo, continuou a acumular, anos afora - e adentro - as funções de mãe e de pai.

Lembro-me de Bruno adolescente: um garoto sério, compenetrado, sem nenhum trauma aparente. Grandes amigos fraternos, ele e o pai constituiam uma família de verdade. Espero que esta família continue bela como a guardo em minha lembrança.Posso afiançar que jamais, ao longo de toda a minha vida, conheci mãe mais amorosa e dedicada que o meu amigo Antonio.