Palavras, palavras, palavras
Queria ter o dom da palavra para que elas fluíssem soltas, leves, brancas. Que saíssem de minha boca sem precisar pensar que no futuro elas podem ser usadas contra mim.
As palavras proferidas deveriam ter somente bons sinônimos como chuva, brisa, leite, quente, amor, fadiga...
Fadiga é uma palavra tão bonita para representar o cansaço. Deveria ser apenas: “estou cansado”. Assim como se suspira o amor. Um ventinho perfumado que sai pela garganta afora, trabalhando junto com o nariz exalando flores de cor violeta.
Mas são apenas palavras, eu poderia inventar uma que soasse suave aos ouvidos e sua tradução significasse a morte. “Assípite” me dá uma agradável sensação de déjà vu. Sério.
E assípite nem existe...
As palavras nascem em nossa mente conforme o grau de referência que temos, ou seja, quem lê o dicionário tem muito mais chances de não repetir invariavelmente a mesma palavra, frase após frase ainda mais quando quer a profundeza de um determinado assunto.
Eu queria que as palavras não ferissem ninguém e que as lágrimas caíssem somente pela emoção feliz. Os sentimentos podem ser facilmente expressados com palavras como: carinho, sussurro, sorriso, calor, afago. Afago não, que é uma palavra feia que designa um gesto tão simples de proximidade humana.
Tem palavra mais bonita que “colo”- O ato de segurar alguém - Amor, alguém irá dizer. O amor é sentimento e o colo é o amor sentido.
O amor é o ato de sentir e o colo é o ato de carregar o amor. Quando amamos conseguimos resgatar das entranhas de nosso ser a força necessária para carregar no colo o objeto desse amor.