Nome: MULHER - Espécie: CAMALEOA

Indiscutivelmente as mulheres galgam, a passos largos, um a um os degraus do mercado de trabalho. Indiferentes à hierarquia primordial masculina, elas vão avançando de salto alto, batom e perfume.

Gosto de constatar que este avanço não faz parte de uma revolução do sexo frágil, marcada por atitudes rebeldes como a queima de sutiãs em praça pública. Pelo contrário, a mulher que se impõe profissionalmente não abre mão de um sutiã sensual, representante-mor da sua feminilidade. Ela avança simplesmente porque conseguiu provar que a sua inteligência a impele além do fogão, tanque ou mesa de passar roupa (mesmo que, inevitavelmente, tenha que voltar a eles após um estafante dia de trabalho).

O ótimo de tudo isso é que a revolução feminista (o segundo maior movimento do século XX) não fez com que as mulheres criassem bigodes ou usassem ternos, como pareceu que aconteceria. Extremismos à parte, o poder multifuncional que conquistamos é mesmo de envaidecer. Por momentos é extenuante, mas não podemos negar que por isso somos tão super.

Super no que se refere à amplitude das nossas possibilidades. Somos filhas, somos mães, donas de casa (isso inclui supermercado, empregada, faxineira, jardineiro...), somos profissionais, mulher, amante, namorada; fêmea no sentido primitivo. Vestimos o couro de camaleoa e saímos por aí, mudando a performance conforme a situação.

Peço licença aos homens (tão importantes para o equilíbrio da espécie), mas a versatilidade que envolve a mulher é algo, senão inatingível, no mínimo incopiável. E aproveitando o ensejo do nosso dia internacionalizado, quero ressaltar algumas arestas remanescentes da hegemonia masculina que precisam ser aparadas:

*Precisamos entrar nas agências bancárias sem ter que deixar nosso arsenal cor-de-rosa (feitos de metal) do lado de fora. Batom, escova, espelhos, chaveiros, celular, caneta, a maravilhosa bolsa com argolas. Socorro! Estão desnudando a nossa privacidade.

*Precisamos de vigilantes gentis que não nos olhem como se fossemos discípulas de Mata Hari.

*Precisamos de gerentes gentis. Quando homens, que despertem sua parte feminina (eles admitem que possuem) para negociar de forma amena. Quando mulher, que dispense o seu lado masculino (algumas costumam ressaltá-lo) e tratem do assunto de mulher para mulher.

*Precisamos de técnicos que falem conosco cientes de que não sabemos (e nem queremos saber) das peças dos equipamentos que teimam em estragar (inclua-se aí, carro, computador, máquina de lavar...). E que os concertem sem superfaturarem por sermos leigas.

E pondo fim à listinha tipicamente feminina, cheia de manha e dengo:

* Precisamos de calçadas sem buracos que encaixem nossos saltos finos e charmosos, nos fazendo perder o charme e o salto.

Coisinhas básicas, frescurinhas de mulher... Mas, que tornariam o nosso habitat muito mais adequado. Afinal, nossos direitos já foram conquistados, não precisamos de igualdade, pelo contrário, queremos a preservação da espécie.

Às camaleoas leitoras deixo aqui um recadinho de Che: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás!"

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 05/03/2009
Reeditado em 05/03/2009
Código do texto: T1470434