Só Não Deu Pro Jarretão (humor - causo)

Ela já estava exausta. Havia trabalhado demais, sentia o corpo dolorido, suado e grudento. Um calor de derreter mármore e o ar condicionado quebrado. As horas iam sendo engolidas pelo relógio que, impiedoso, não dava uma trégua sequer, ansioso em cumprir logo sua jornada semi-diária.

Pensou em como seria bom poder tomar um banho agora. Suspirou, desanimada. Espreguiçou-se, na cama... Levantou novamente, olhou a fila. Tantos ainda para atender: Jarretão, Fred, Léo, Chocolate, Turrão, Bia, Rebeca, Naila e Laila. Além de uma ninhada de gatinhos... Melhor recomeçar logo. Sentou-se em frente ao microcomputador e iniciou as atualizações no site da entidade de proteção animal, para a qual fazia trabalho voluntário, atualizando a página da internet de animais para doação. Quando havia muitos anúncios ela sempre se dedicava aos de animais em situação de risco. Assim, deixaria o Jarretão por último. Após anos de trabalho forçado e maus-tratos nas mãos de carroceiros e pouco mais de um ano e meio de aposentadoria feliz e tranqüila numa fazenda em Goiás, o pobre cavalinho finalmente havia falecido. Seria necessário migrá-lo para a página de Festa no Céu, mas era uma atualização apenas informativa, podia esperar.

Anunciou o Chocolate, largado numa clínica em condições muito precárias, após sofrer um atropelamento. Depois, um a um foi concluindo os anúncios. O sono, porém, já provocava torpor e ela começou a temer o risco de fazer alguma bobagem. Fez mais dois anúncios, quase babando sobre o teclado.

Desistiu. Entrou para o banho. Conformou-se:

- É, só não deu pro Jarretão.

Foi quando ela teve a idéia de escrever este texto.

Pensou que muita gente viria ler a história atrás de sacanagem.

Você também?

Não tem! Sacanagem, né?!