O QUINTO ELEMENTO
Embarquei na rodoviária de Araxá, num ônibus que vinha de Uberaba para Belo Horizonte. Paramos na cidade de Luz, naqueles restaurantes caríssimos onde uma água pode lhe custar o preço de um pedágio nas mais caras rodovias do mundo. Dois amigos suspeitos, um casal insuspeito, um bêbado insuspeitíssimo vestindo um enorme blusão grosso e cheio de bolsos, apesar do intenso calor. E a polícia. Eis o quadro com que deparei na volta do banheiro. Havia desistido da água a R$3,50, um roubo!
Entraram os policiais no ônibus, revistaram os dois suspeitos, mandaram o trocador abrir o bagageiro, retiram suas malas (muitas) e reviraram tudo, a ponto de rasgar dois travesseiros que estavam no meio das coisas. Alguém havia denunciado que havia drogas. Quase uma hora de procura e a decepção de todos os curiosos e da polícia diante do fiasco. Liberada a viagem, os suspeitos, muito educados, se desculparam com o motorista e os demais passageiros pelo transtorno. Cada um sentou em poltrona separada, inclusive o casal, que já não trocava mais carinhos insuspeitos diante da cena da revista.
Chegando ao destino, antes da rodoviária, eis que descem todos os cinco no mesmo ponto de parada numa animada conversa e o bêbado(?) completamente são, mas com a mesma blusa. Acho que estava recheada. Eis o golpe do quinto elemento.
Lembrei-me de uma crônica do Fernando Sabino: uma velhinha passava todos os dias pela alfândega montada numa moto com um saco de areia na garupa. Até que começou a incomodar a fiscalização. Todo mundo ficava intrigado e resolveram abordar a velhinha. Era areia que havia. Todos os dias conferiam para ver o conteúdo do saco. Areia. Um fiscal insistia que ali tinha coisa. E tinha mesmo: areia. Cansados, mas não vencidos um dia resolveram lhe perguntar o que ela contrabandeava, com a promessa de que nada fariam contra ela. Era moto.