o passado por um triz
Num determinado momento da vida temos uma tendência de achar, e com razão, que os fatos passados na nossa juventude são como coisas superadas, são como desafios que ajudaram a construir nossa vida e nos tornar a ser quem somos e depois os deixamos para trás porque agora temos de ser melhores do que éramos, mais experientes...
Tinha de ser assim mas a vida não costuma ser tão matematicamente óbvia e previsível. Às vezes tudo depende de uma decisão que pode ser tomada numa fração de segundos.
Outro dia eu caminhava pela rua na hora do almoço procurando por um lugar aonde pudesse comer um sanduíche quando de repente a vi sentada numa mesa tomando sorvete. Ela não me viu mas eu a reconheci.
É claro que ela já não tem mais aquele ar jovial de há vinte anos, mas os cabelos brancos que insistem em aparecer na minha cabeça servem pra me lembrar que os vinte anos tambem passaram para mim.
Enquanto bebo do refrigerante e experimento do cachorro quente a observo de longe. Naquele instante me passa pela cabeça todos aqueles acontecimntos passados. Ela mexe nos cabelos eu descubro que sentia saudades daquela maneira dela mexer nos cabelos bem mais do que eu imaginava. Me da vontade de ir falar com ela.
Falar sobre como eu gostava da Legião Urbana e ela do RPM, eu do Miami Vice e ela do Mc Giver e ambos gostávamos de ir agitar na danceteria a noite.
Mas eu não vou até ela. Ela é que se levanta e passa por mim me lançando um olhar como se tentasse me reconhecer. Mas eu não digo nada, sou trazido ao presente quase como que de sopetão.
Ela não diz nada e vai embora. Eu pago o sanduíche e tambem vou embora. Sigo numa direção diferente, mas nesse dia eu aprendi que ás vezes um antigo amor pode não estar morto e sim adormecido num sono profundo e para acorda-lo basta um impulso ousado, irresponsável e fora de rota. E eu não agi assim por muito pouco.