amar até perder a graça (...).
“Por que não falar de amor, repetir as palavras, se no fundo só isso que vale a pena?”. Nada mais certo, nada mais injusto.
Se pudesse, nem amaria, mas posso.
Se pudesse não faria muitas coisas, mas a porcaria é que posso.
Quando se fala de amor, qualquer um vira poeta, qualquer um perde o fôlego, fica flutuando, perde a razão, fica parecendo protagonizar em qualquer historinha infantil, faz dela virar realidade, ou pelo menos acha que faz, fica parecendo idiota.
Antes e depois (...).
São sempre os mesmos sintomas, amor até parece droga.
Devia ser por tempo indeterminado, mas o tempo é que determina.
A gente ama, a gente cospe amor, cospe no amor, odeia amor e muito mais quem amou, a gente cospe em quem amou.
Mas ninguém vive sem.
Todo mundo fala de amor.
Todo mundo ama.
Todo mundo repete as palavras, não sei se por valer a pena, ou se por falta de imaginação.
Mas repete.
Talvez seja culpa do vocabulário ou qualquer outra coisa que o valha.
Uma hora acaba perdendo a graça, fato.
Por falta.
Cada um tem a sua falta, seu desespero, seu ciúme, seu cuspe.
Sempre acaba.
E sempre começa outro.
Uns se matam antes de começar. Cortar os pulsos, se enforcar, se drogar é tudo a mesma bosta.
Cada um tem a sua maneira de odiar e se odiar.
Se bem que também ninguém odeia tanto conforme passa-se os dias, acaba ficando indiferente.
Amor e ódio não são muito diferentes.
Bom é amar até perder a graça (...).