BEM QUE ME AVISARAM!

Achei que não houvesse nada mais desagradável do que ouvir a frase: "Bem que eu avisei!". Considero este desfecho de lição de moral tão insuportável que me policio para não usá-lo, quando aquilo que eu pressenti que aconteceria, acontece. Não gosto de ser chata. E gente que espera que a previsão pessimista aconteça para exclamar: "Eu avisei!" É, incontestavelmente, chata!

Mas a escola da vida, esta em que não se precisa prestar vestibular para ir se especializando, acabou me ensinando que existe outra citação tão chata quanto e, talvez ainda mais difícil de digerir: "Bem que me avisaram!"

Esta sentença, além do desfecho da catástrofe acontecida é a teimosia assumida. O aviso estava lá, mas a gente teima e destrói o DANGER com placa e tudo (igualzinho aos filmes americanos). Então, acaba descobrindo que o aviso era verdadeiro, lá na frente, quando o abismo já está a nos engolir.

"Separação não é fácil!" Quantos me disseram isto? Perdi a conta. Mas, lembro-me da cara da psicóloga, do terapeuta alternativo, da estrategista matrimonial, do médium, do Pai de Santo, da cartomante...Todos balançando a cabeça de um lado para o outro numa contradança com o dedo indicador, ao som de " Não faça isto, não vai ser fácil!"

Até que dei um basta a todos os NÃOS e ordenei a mim mesma: "Só quem fala agora é o meu coração!". E ele falou. Romântico, sensível, impetuoso, desafiador, teimoso; ele deu a palavra final. Contra todos os NÃOS ele disse SIM! E se lançou na viagem que, conforme todos avisaram, não seria fácil. E não foi. Tempestades e mais tempestades quase me fizeram crer que o sol jamais ressurgiria. Como nos Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez, minha alma flagelada já começava acostumar-se em viver molhada, desabrigada, fria. Só o meu coração birrento permanecia quente, em suas batidas descompassadas de dor não se arrependera um só momento.

"Bem que me avisaram!"... Eu pensei. Subestimei a constatação popular de que (salvo raríssimas exceções) descasar é muito mais complicado do que casar. E ainda que, você só conhece realmente com quem está casado quando se separa. O teimoso acha que com ele, apenas com ele, tudo vai ser diferente. Então, de nada adianta avisarem porque ele vai lá e faz. Eu fiz! Conforme o meu coração rebelde ordenou. E comigo aconteceu tudo igualzinho aos outros, conforme me avisaram: Não foi nada fácil!

Depois do mal ter acontecido; da praga ter vingado; corre-se em busca do antídoto. E mais uma vez me avisaram: "Ex-casados, são eternos inimigos." Será? Mas, tem os menos pessimistas: "Depois de dez anos as coisas começam a melhorar." Será? Os consoladores: "Não se vejam e não se falem (nem por e-mail)! A distância é apaziguadora!" Será?

Descobri que estes avisos têm o fundamento da cultura popular; que não é científica, mas é a conclusão de incontáveis experiências vividas por aí. As amostras comprovam que o fim de um casamento é difícil demais, antes, durante e depois. E, conforme me avisaram, comigo não foi diferente.

Então, quando me pergunto se devia ter lido todos os avisos e seguido o caminho mais fácil, é o meu coração que mais uma vez responde: "Antes a estrada longa e arriscada que leve ao verdadeiro destino, do que a comodidade do atalho que vai dar em lugar nenhum." Não foi fácil, mas hoje sou muito mais feliz! E dentro do peito, a cada segundo, o órgão infrator bate para me lembrar todo orgulhoso: “EU AVISEI!”

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 03/03/2009
Reeditado em 03/03/2009
Código do texto: T1466874