Dos campos de concentração aos altares
Edson Gonçalves Ferreira
Quem não conhece Frei Mariano von Gipsen OFM perde e muito. Ele segue, à risca, os passos de São Francisco, o Pobre de Deus e sua história de vida é tão linda que, verão, parece até enredo de um grande filme de época. Na juventude, na Holanda, Frei Mariano ficou preso no campo de concentração ao lado de outros milhares de jovens. Ali, quando algum fugia, outro jovem era fuzilado. Uma vez – contou-nos – quando um jovem fugiu, um jovem, seu amigo, seria vendado para ser fuzilado. Ele não deixou colocar a venda e disse que dava a sua vida para salvar os outros. Aí, então, Frei Mariano resolveu consagrar sua vida a Deus.
Uma vez franciscano, Frei Mariano chegou a Divinópolis na década de 50 e, quando nos tornamos coroinha, começamos a conviver com ele que, sempre, foi uma espécie de pai espiritual para nós. Mais tarde, nomeado vigário da Paróquia de Santo Antônio, Frei Mariano continuou o seu trabalho junto aos pobres. Ele circulava pelo São Vicente (Pito Aceso), pela Lajinha, pelo Esplanada, pela Vila Santo Antônio, enfim por todos os lugares onde sua ação em prol dos pobres e da população era necessária.
Tivemos oportunidade, desde criança, de acompanhar as ações de Frei Mariano que, às vezes, era criticado, porque do mesmo modo que se relacionava com os mais pobres, relacionava-se com os mais ricos. Dos mais ricos, ele recebia donativos para ajudar os mais necessitados. Com ajuda de muita gente – não citaremos nomes, para não pecar por omissão – fundou a ADAP e, em cada esquina de Divinópolis, havia uma placa: “Não dê esmola nas ruas”. Sim, isso é necessário, porque existiam e existem entidades para ajudar quem necessita. Precisamos ensinar a pescar e não dar o peixe, não é verdade?
Frei Mariano criou o refeitório popular, na Igreja São Geraldo e, ali, quem precisava recebia refeições; criou a horta comunitária no quintal do Convento Santo Antônio. Quantas vezes, vimos os jovens plantando e colhendo hortaliças ali. A pastoral de Frei Mariano é excelente e toda voltada para os mais pobres, seguindo o Homem de Assis. Um exemplo de vida. Na década de 70, quando transferido de Divinópolis, começou um trabalho de recuperação de drogados. Vivemos com ele, durante um período, em Cavalcanti e, ali, ele fazia esse trabalho fantástico que, até hoje, desenvolve, agora, em Belo Horizonte.
Em fevereiro, Frei Mariano completou 88 anos de vida fecunda e, no Santuário de Santo Antônio, houve missa concelebrada em sua homenagem. No dia, ele chegou mais tarde, porque, em Belo Horizonte, um dos rapazes em recuperação fugira e, então, antes de vir, ele foi buscar o rapaz de novo para continuar o tratamento. Celebrou a missa e falou bonito e, emocionado, chorou muito, porque sempre amou Divinópolis e, aqui, queria permanecer. Quem conviveu, como nós, com Frei Mariano teve um privilégio e, sem dúvida alguma, todas as homenagens que Divinópolis render a ele são poucas. Acreditamos que a Câmara Municipal de Divinópolis deveria homenageá-lo por seus 88 anos de vida consagrada à humanidade. A esse grande homem nosso carinho filial.
Divinópolis, 28.02.09