UM PASSEIO INESQUECÍVEL

          O rio Parnaíba, que separa o Maranhão do Piauí, tem à  margem deleTeresina, também banhada pelo afluente Poty. No mês de julho as águas do "Velho Monge" baixam, formando praias fluviais em toda a sua extensão e ali se cultiva, sobretudo no interior, a cultura de vazante, mais ou menos como se dava no rio Nilo. O calor escaldante leva muita gente àquelas águas correntes e às brancas areias. Assim acontece na maioria das cidades ribeirinhas. Formam-se barracas com bebidas, comidas, principalmente o peixe ao molho ou na grelha.
          Foi numa dessas temporadas “julinas” que o meu amigo Teófilo, convidou-me a conhecer Teresina, o delta do Parnaíba e as "Sete Cidades", pontos turísticos imperdíveis naquela região. Eu, criado entre concretos, viadutos e palácios brasilienses, achei tudo aquilo fantástico, desde o atravessar o rio de barco, até percorrer aqueles blocos de pedras que formam o milenar mistério daquelas "cidades".
          Teófilo eu o conheci aqui, na universidade, onde ele cursava Sociologia e eu Direito. As matérias afins nos aproximaram e eu descobri que o meu amigo tinha também uma veia poética, herdada do pai dele, lá em Esperantina.
          Em Teresina, Teófilo me apresentou à galera piauiense e eu achava um barato aquela receptividade, uma gente de boa cabeça, respirando cultura literária e musical, orgulhando-se de um compositor parceiro de Gil e Caetano, que prematuramente veio a falecer na década de 70. Torquato Neto, um dos criadores da Tropicália. Teófilo não o conheceu, pois é de outra geração mais recente. O pai, Sr. Catulo, sim; foi contemporâneo, e orgulhava-se disso, ao falar-me sobre Teresina:
- "Minha geração foi fértil em talentos. Meus tempos de ginásio e científico foram enriquecidos com a música de Chico, Caetano, Gil, Torquato e Edu Lobo. Gal, Bethânia e Elis, vieram para interpretá-los." Dizia isso com olhos brilhando, a pele do rosto vermelha, e acrescentava:
-" Esta música que está aí me fere os ouvidos. É medíocre e alienada."
          Teófilo sorria. Sabia das histórias que o pai lhe contava dos anos 60, quando o regime militar se instalou e ele fora preso pelo DOPS.
          -Vamos, Hermílio, vou levá-lo ao Centro de Artesanato, que fica na praça Pedro II, antigo Quartel de Polícia e onde há vestígios das torturas, nos porões. Mas lá o que vamos ver é a literatura de cordel, alguns cantadores, obras de arte, coisas da terra. Inclusive uma estátua de Torquato, deve estar por lá ainda.
          Na Praça Pedro II ele me mostrou o Teatro 4 de Setembro e o Cine Rex, onde havia matinês e vesperal, conforme o Sr. Catulo afirmava. Hoje, tudo está entregue ao descaso. O teatro vive quase sempre fechado. O Cine Rex exibe pornôs. O centro da cidade está invadido pelos camelôs e a Praça da Bandeira está repleta de marginais. O mercado velho conserva a sua tradição, próximo à Praça Rio Branco. Mas Teresina é uma cidade graciosa, acolhedora, cuja temperatura não é menor que o calor humano do seu povo. Adorei estar ali, naquele julho de 2006, recepcionado pelo meu amigo Teófilo e vários amigos que os fiz naquelas andanças. A Avenida Frei Serafim, movimentada, vai da Igreja de São Benedito até ao Teresina Shopping. Ali tomávamos o melhor sorvete natural, de frutas da terra; bacuri, cupuaçu, buriti, até sapoti.

          -Vou sair daqui gordinho, dizia. Mas Teófilo nem ligava, queria mesmo era me agradar na terra dele. Todas as noite saíamos e tudo era perto, divertido, repleto de gente comunicativa. O irmão de Teófilo, Tácito, apresentou-me à galera: Conrado, Afrânio, Raul, Deodato ( o Déu), Júlio, Denilson, Olavo e Gabriel, todos dos tempos do Diocesano, colégio dos riquinhos da época.
          E assim, remexíamos toda a cidade. Havia o mulherio que conosco se juntava para abrilhantar o happy hour.
          Foram inesquecíveis aqueles dias na Cidade Verde. E, hoje, revendo algumas fotos que registraram aqueles momentos, senti falta do meu amigo e daquela bela cidade,  para os quais  dedico  esta crônica como uma forma de revisitá-los.

Palácio de Karnak, sede oficial do Governo do Estado do Piauí.
 

LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 01/03/2009
Reeditado em 30/10/2010
Código do texto: T1464106
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