A rainha da casa

Além de prematura, sou filha única. Quer dizer, a única filha mulher no meio de um monte de irmãos. Todo mundo pensa que isto é um privilégio e vivem me chamando de Princesinha, Rainha da Casa, etc. e tal. Mas Deus está de prova, só eu sei quanto é duro viver nesta situação.

Logo na infância já tive que conviver com caçoadas a cada irmão que nascia. A irmãzinha, tão desejada, nunca chegou.

Foi preciso me acostumar e houve um tempo em que comecei a gostar disto. Percebi que muitas das minhas amigas viviam brigando com as irmãs, com as quais disputavam tudo. Roupas, perfumes, sapatos e até namorados. Disto eu estava livre.

Aos quatorze anos calcei meu primeiro par de sapatos de salto. Feliz da vida, aprontei-me para sair. Vestido novo, sapato novo. Mas não era fácil andar com aquilo. Tive que ficar treinando pela casa, toda desengonçada.

Pra que, meu Deus? Eu devia ter saído de fininho pela porta dos fundos...

Assim que viram, meus irmãos se puseram a me imitar, e depois se jogavam no chão às gargalhadas.

Não houve passeio, não houve mais nada naquele dia. Só choro e gritaria.