UM ANO ANTES DE CRISTO
[ AO GRANDE JÚLIO CESAR, UM BOM AMIGO]
Certa vez um grande amigo meu, 1 A.C., me disse assim: “as vezes, nem eu me entendo, nem eu me conheço”.
Eu olhei pra ele, estávamos sentados embaixo de um pé de carambolas, e disse: “conhece os outros para depois poder ser o que quiseres”. E disse também o que um poeta brasileiro – de um Brasil ainda não descoberto - chamado Henrique Diógenes certo dia escrevera:
EU?
Posso ser o fogo
A água, a terra o mar, o ar , o sufoco
A sede, a fome...
Posso ser o ouro, a fese, o trono, o pinico...
Eu sou tudo... posso não ser nada!
Eu sou nada, posso não ser tudo...
Sou o mendigo da calçada, sou o presidente
Sou o homicida sou o juiz...
Quem sou eu?
A incógnita dos outros...
Eu não sou eu, sou você em todas as formas...
Eu só sou o ser de mim quando não estou em você,
Eu sou você quando não estou em mim...
Eu posso ser tudo, só não posso ser eu quando eu preciso ser você!
E continuei: às vezes é necessário não sermos a gente para conseguirmos ser o que devemos ser ou não ser!
Já dizia Raul: “ eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Podemos fazer e ser qualquer coisa. Podemos até não nos entender. Você pode até não se conhecer. A única coisa que você não pode fazer é ser um covarde a ponto de se conhecer ou não se conhecer, se entender ou não se entender, e assim agir a ponto de jogar na sarjeta o seu corpo e o corpo dos outros – para os mais poéticos -, agir jogando sua alma ou a alma dos outros no calabouço das trevas. Para ser isso ou assim, não justifica você dizer que se conhece ou não, se entende ou não!
Meu amigo olhou para mim e disse: “menos mal, apesar de não me conhecer bem, nem de me entender bem, nunca sujei meu corpo, tampouco minha alma... Muito menos os corpos e almas dos outros”.
Imagina se ele antes de mim encontra-se com Sócrates. Este o diria: “Conhece-te a ti mesmo”.
Deves realmente conhecer a si mesmo, mas antes de tudo conheça o outro, pois conhecer a si e não conhecer o outro é estar sem escudo; já conhecendo o outro e mesmo não a si, é poder dele roubar a espada e cravá-la em seu peito quando merecer, é poder a ele dá um buquê de flores quando merecer o aroma das rosas.
O maior defeito do outro para ele mesmo, é sempre o outro, é sempre ele mesmo!
Meu maior defeito sou eu, mesmo que eu me conheça por inteiro!