No canto
Esquina de cidade grande. Movimento intenso de todos os lados. Uma pedinte sentada. Só uma pedinte? Não. Uma família inteira debulhando feijão para vender no semáforo. Uma família e uma caixa. Uma caixa de papelão forrada com espuma de colchão e um pedaço de pano, mais ou menos limpo. Dentro dela um boneco estava. Não, não é um boneco. É um bebê. Dorme tranqüilo alheio a tudo e a todos. Ali é o seu mundo. O barulho não o perturba. Nada o perturba.
A pedinte, sua mãe, de quando em quando observa seu pimpolho. Mas não sem tirar os olhos dos transeuntes. Eles são o seu ganha pão. A criança continua a dormir. São poucos os que o observam. Outros apenas vêem a cena e viram as caras. Iguais a estes últimos, existem milhares de pessoas assim: olham para o outro lado, desse modo não veem o problema que fica sem solução.