"Amor Com Humor ou Humor Com Amor" -Crônica do cotidiano-
Não sei se todas as esposas são assim, mas a minha querida algumas vezes peca por falta de humor. Felizmente não é sempre. Há dias em que fica esquentada por qualquer coisinha. Uma brincadeira inocente no momento errado (errado pra ela; imperdível pra mim) e, pronto, lá vem bronca. Outro dia, por exemplo, ela me falou pela milésima vez:
- Acho um absurdo você jogar a toalha de banho molhada em cima da cama! Porque é que você faz isso?
- Se eu jogar embaixo da cama você não vai encontrá-la, amor. Além disso, pode sair toda empoeirada. Homem tem muito mais lógica que a mulher em tudo que faz.
Acabo de falar e espero a reação. Se estiver calma, apenas me chama de idiota com um sorriso. Se não, tô ferrado. Tenho que escutar sermão por um bom tempo.
Há alguns dias atrás fui infeliz em uma brincadeira. Sabia que ela estava brava, mas mesmo assim cutuquei minha onça com vara curta. Ela, assim como minha mãe, tem mania de perseguição contra meu muito estimado copo amarelo de plástico.
- Eu não entendo, bem, como é que você tem coragem de usar sempre esse copo horrível. Até pra tomar cerveja você usa essa coisa. Não tem cabimento...
- Não magoe o coitado, amor. Esse copo foi feito com material usado pela Nasa e eu gosto dele justamente por que me lembra você.
- Quer dizer que essa coisa horrível, que já foi amarela um dia, te faz lembrar de mim? Em que sentido?
- Tem uma boca larga que não fecha nunca.
A coisa já ia ficar feia sem a interferência de minha mãe, mas minha mãe riu e aí piorou a coisa. O bom é que eu mesmo rio com as bobagens que digo e acaba valendo a pena levar o esporro da cara-metade.
Há muitos anos atrás, no dia do aniversário de um dos filhos, ainda solteiros e pré- adolescentes, ela me perguntou:
- Bem, você acha que eu devo fazer o bolo ou comprar pronto?
- Recuso-me a responder, amor.
- Porque? Posso saber?
- Se eu disser pra comprar pronto você vai perguntar: “Quer dizer que não gosta dos meus bolos?”. Se eu disser pra você fazer, você vai me dizer: “Puxa vida! Será que não posso ter nunca um pouco de mordomia?”.
Ela riu um bocado e confessou:
- Você me conhece mesmo! Acertou na mosca. Vou comprar pronto e pronto.
Costumo brincar dizendo que a prova de que nosso casamento é bom é que ela ri das minhas piadas e brincadeiras do mesmo jeito que nos tempos de solteiros, mas muitas vezes quem me faz rir com gosto é ela com uma gozação, uma tirada repentina, um comentário sarcástico sobre alguma coisa ou alguém, ou até contra mim mesmo.
Quando ela me raspou a cabeça com máquina 2, perguntei ao acabar:
- Fiquei bonito, amor?
- Eu só raspei seus cabelos, bem. Plástica é com o Ivo Pitanguy.
Filha da mãe...Sou doidim por ela.
Ps: Quando cito meu copo amarelo de plástico, sobre o qual já fiz até uma crônica de amizade, muita gente deve pensar que é um plástico liso, tipo infantil, escorregadio, quebrável, mas não é nada disso. Meu copo, que já ficou meio bronzeado de tanto café tomado nele, é feito de um plástico especial, difícil de descrever, que tem uma boa pegada, boca especial para quem tem nariz adunco (meu caso) e que não gosta que a boca do copo encoste no nariz. Companheiro fiel e constantes de minhas insônias, de meus dias de trabalho, de minhas refeições, jamais cometerá a indelicadeza de quebrar por causa de um simples tombo. Já tentaram muitas vezes sumir com ele, mas nós dois sempre acabamos nos encontrando novamente nas quebradas da vida.
Quando nos mudamos de São Paulo para Santos eu o escondi no carro antes que "alguém" tivesse a idéia de "esquecê-lo" no endereço antigo. Amigo é coisa pra se guardar bem. Jamais comprei outro igual para não magoá-lo.