Sete palavras
- Eu não gosto quando você fala assim!
Aquela frase ficou martelando na minha cabeça. Quase impercebíveis, aquelas sete palavras pairaram na minha mente, provocando profundas reflexões. O paralelo do virtual e do real que sempre norteava as nossas conversas poderia estar formatando na sua mente uma idéia equivocada a respeito da minha pessoa, um falso retrato da minha personalidade. Era um sinal de alerta. Repetidas vezes, eu afirmei que as palavras nos denunciam, ao mesmo tempo que deixam marcas na mente das outras pessoas; assim como impressões digitais, revelando traços íntimos do nosso ser.
Por tudo isso, temi que você estivesse compondo uma imagem diferente daquela que eu gostaria que você tivesse de mim. Nós queremos ter sempre uma boa imagem diante das pessoas, principalmente, perante alguém que a gente ama e, por conseguinte, é muito importante para nós. Na verdade, eu gostei muito de ouvir aquela frase. Até fiz questão de repeti-la várias vezes na sua voz.
- Eu não gosto quando você fala assim!
Soou como uma doce manifestação de carinho. Daí em diante, eu quis conduzir a conversa de tal modo a deixar claro que eu não sou um alienado da vida real. Alguém que vive nas nuvens, ou foge frequentemente para o irreal ou para o surrealista nos momentos de crise, mesmo nas pequenas dificuldades, sempre se pondo à margem dos problemas. Longe disso, o antagonismo entre o real e imaginário é apenas o motivo condutor de uma teoria irrigada por este ser em busca da perfeição. Sim, a perfeição. Mas não aquela perfeição sustentada pelos perfeccionistas. Antes que me digas que é um paradoxo, eu te digo: continuo achando que as pessoas perfeitas; como algumas que conheço bem de perto; são as piores pessoas do mundo: intolerantes, arrogantes e intragáveis, entre outros adjetivos mais. Não quero ser assim. Eu quero apenas me tornar uma pessoa melhor, capaz de produzir benefícios tanto para mim quanto para as outras pessoas, mormente as que me são caras. Os resultados são visíveis. Mas tudo depende do invisível. Tudo começa com os pensamentos. Eu não tenho uma opinião até que eu expresse essa opinião. Antes disso, não passam de meras conjecturas, retidas na nossa mente como um tesouro escondido, do qual não se conhece o valor. Palavras são sinais que necessitam ser examinados a todo instante. Precisamos expressar nossos sentimentos sem nenhum receio, pois só desta forma poderemos avalia-los. Só assim saberemos se estamos certos ou errados a respeito disso ou daquilo. Quero ligar para você e depois de te ouvir, te dizer palavras que te façam bem; coisas agradáveis e edificantes.
“Faça uma pessoa falar sobre si mesma e descobrirá todos os seus segredos”. Tenho esta frase anotada no meu caderno. Ela nasceu quando eu assistia uma entrevistadora famosa entrevistando uma cantora famosa que falava sobre a sua vida. Não gosto de ser hipócrita, porque a hipocrisia torna as pessoas infelizes.
Falando em frases, há uma que ouvi muitas vezes, e confesso, com pesar, que ela não me agrada nenhum pouco: “quanto mais eu conheço as pessoas mais eu amo o meu cachorro”. Nada contra os cachorros; eles merecem todo nosso amor e carinho. Entretanto, sem entrar no mérito da questão, eu entendo e respeito o modo de pensar destas pessoas, mas eu odeio esta frase. Eu personalizei-a da seguinte forma: “quanto mais eu conheço as pessoas, mais eu amo a Deus”. Não que todas pessoas sejam maravilhosas e perdoáveis; a verdade é que nem todas conhecem a Deus no profundo. Mas isso é assunto para uma outra conversa. Pessoas cometem erros a todo instante, e quase sempre os erros chamam mais a atenção do que os acertos. Estes passam quase sempre desapercebidos, razão pela qual eu criei a frase “Errar é humano. Acertar também” em contraponto a frase: “Errar é humano”.
Tenho certeza que não sou o mesmo desde a última vez que nos afastamos, nem sou o mesmo desde a nossa primeira conversa depois que nos reencontramos. Você me disse que gosta de conversar comigo porque eu sou único. “Cada pessoa é única”. E por isso, busca a minha “companhia” para um bom papo, tipo “papo cabeça” ou coisa assim. Aos poucos a gente vai se conhecendo. A cada dia, confiando mais, segredando mais. E assim, a figura da pessoa maravilhosa que sempre imaginei em você vai se tornando mais consistente, cada vez menos superficial, cada vez mais real. Mas você há de convir que é no virtual que muitas vezes as coisas devem acontecer primeiro.
“Vale mais a pena criar dez cachorros do que lidar com o ser humano”. Esta é a frase que eu acabo de ouvir enquanto escrevo estas linhas. Particularmente, eu me sinto ofendido quando ouço algo desse naipe. Repito: nada contra os cachorros. Eu prefiro, inclusive, não ter animal nenhum em casa. Isto me exime de ter que cuidar deles. Mas a cachorrinha que minha filha adotou se apegou comigo. Izabela é uma poodle grande de cerca de três anos e quando eu estou em casa ela está sempre perto de mim como uma sombra. Todos os dias, eu desço três andares para passear com ela, pelo menos duas vezes ao dia. À noite, perto da hora dormir, ela senta ao meu lado no banco da praça e eu fico meditando sobre a minha vida; sobre o que ela medita, isso ela nunca me disse. Todas as vezes que eu saio de casa, ela se anima, achando que vai sair também: pula sobre mim e pede para buscar a coleira. Não sei bem a razão desse apego. Talvez porque ela entenda que sou o chefe da casa, a pessoa que ela vê chegar com a comida; sou eu quem traz a sacola com a ração. Por fim, toda vez que chego em casa, não importa o tempo que passe fora, ela me recebe com festa. Eu tenho que me sentar no sofá e “sofrer” pelos menos cinco minutos de manifestação de puro amor e carinho.
Ocorre que é impossível domesticar o ser humano. Contudo, sei que as pessoas podem ser transformadas pela renovação do nosso entendimento. Não é fácil moldá-las ao nosso jeito de pensar ou agir, porque as pessoas são dirigíveis e não manipuláveis como se imagina. As pessoas precisam ser conquistadas, no meu modo de entender. E isso só possível quando há amor e, por conseqüência, confiança.
Mas são apenas palavras, a parte invisível de ações que esperaram para serem praticadas. Esta é a diferença entre o virtual e o real.
Quando desliguei o meu celular, observei no mostrador que tinham sido vinte e seis minutos de uma boa e agradável conversa. Ainda não quebramos o nosso recorde: cinqüenta e quatro minutos. Você disse coisas que me fizeram me sentir bem: não sei se serei capaz de reproduzi-las fielmente: “se nada saiu como você desejava, relaxa, tente de novo… se nada saiu como queria, respire fundo…”. Você também queria me ouvir, e saber como eu estava, essas coisas.
- Eu não gosto quando você fala assim!
Em outras palavras, você quis dizer que eu tenho que acreditar mais em mim, que eu sou mais capaz do que eu suponho de alcançar aquilo que eu desejo, que eu tenho muita força pra isso, que você torce por mim. Ao contrário do que você possa imaginar a princípio, eu não fiquei magoado, em momento algum. Eu gostei da sua sinceridade. Você foi espontaneamente sincera. Há uma diferença muito sutil entre ser franco e ser sincero. A sinceridade é autêntica sem, contudo, machucar nossos sentimentos. Já a franqueza beira as raias da falta de educação. É um jeito bruto de dizer uma verdade que na maioria das vezes é melhor que não seja dita.
Vou ficar feliz de ter-te conduzido até estas últimas linhas. Segundo pesquisas, a grande parte das pessoas não vai além das vinte linhas, especialmente se o texto não despertar o mínimo interesse. O motivo condutor deste texto é te agradecer pelo carinho. Aquela frase ainda ressoa em meus pensamentos; como que dizendo: te amo, te amo, te amo… e não quero que você pense mais desse modo.
Escrevi-as só para te agradecer pelo carinho. Fique a vontade para me dizer quantas vezes for preciso:
- Eu não gosto quando você fala assim!
Sete palavras que me marcaram profundamente no nosso papo.
Este texto faz parte da coletânea Alma Nua de Ivo Crifar, pela editora Baraúna.
- Eu não gosto quando você fala assim!
Aquela frase ficou martelando na minha cabeça. Quase impercebíveis, aquelas sete palavras pairaram na minha mente, provocando profundas reflexões. O paralelo do virtual e do real que sempre norteava as nossas conversas poderia estar formatando na sua mente uma idéia equivocada a respeito da minha pessoa, um falso retrato da minha personalidade. Era um sinal de alerta. Repetidas vezes, eu afirmei que as palavras nos denunciam, ao mesmo tempo que deixam marcas na mente das outras pessoas; assim como impressões digitais, revelando traços íntimos do nosso ser.
Por tudo isso, temi que você estivesse compondo uma imagem diferente daquela que eu gostaria que você tivesse de mim. Nós queremos ter sempre uma boa imagem diante das pessoas, principalmente, perante alguém que a gente ama e, por conseguinte, é muito importante para nós. Na verdade, eu gostei muito de ouvir aquela frase. Até fiz questão de repeti-la várias vezes na sua voz.
- Eu não gosto quando você fala assim!
Soou como uma doce manifestação de carinho. Daí em diante, eu quis conduzir a conversa de tal modo a deixar claro que eu não sou um alienado da vida real. Alguém que vive nas nuvens, ou foge frequentemente para o irreal ou para o surrealista nos momentos de crise, mesmo nas pequenas dificuldades, sempre se pondo à margem dos problemas. Longe disso, o antagonismo entre o real e imaginário é apenas o motivo condutor de uma teoria irrigada por este ser em busca da perfeição. Sim, a perfeição. Mas não aquela perfeição sustentada pelos perfeccionistas. Antes que me digas que é um paradoxo, eu te digo: continuo achando que as pessoas perfeitas; como algumas que conheço bem de perto; são as piores pessoas do mundo: intolerantes, arrogantes e intragáveis, entre outros adjetivos mais. Não quero ser assim. Eu quero apenas me tornar uma pessoa melhor, capaz de produzir benefícios tanto para mim quanto para as outras pessoas, mormente as que me são caras. Os resultados são visíveis. Mas tudo depende do invisível. Tudo começa com os pensamentos. Eu não tenho uma opinião até que eu expresse essa opinião. Antes disso, não passam de meras conjecturas, retidas na nossa mente como um tesouro escondido, do qual não se conhece o valor. Palavras são sinais que necessitam ser examinados a todo instante. Precisamos expressar nossos sentimentos sem nenhum receio, pois só desta forma poderemos avalia-los. Só assim saberemos se estamos certos ou errados a respeito disso ou daquilo. Quero ligar para você e depois de te ouvir, te dizer palavras que te façam bem; coisas agradáveis e edificantes.
“Faça uma pessoa falar sobre si mesma e descobrirá todos os seus segredos”. Tenho esta frase anotada no meu caderno. Ela nasceu quando eu assistia uma entrevistadora famosa entrevistando uma cantora famosa que falava sobre a sua vida. Não gosto de ser hipócrita, porque a hipocrisia torna as pessoas infelizes.
Falando em frases, há uma que ouvi muitas vezes, e confesso, com pesar, que ela não me agrada nenhum pouco: “quanto mais eu conheço as pessoas mais eu amo o meu cachorro”. Nada contra os cachorros; eles merecem todo nosso amor e carinho. Entretanto, sem entrar no mérito da questão, eu entendo e respeito o modo de pensar destas pessoas, mas eu odeio esta frase. Eu personalizei-a da seguinte forma: “quanto mais eu conheço as pessoas, mais eu amo a Deus”. Não que todas pessoas sejam maravilhosas e perdoáveis; a verdade é que nem todas conhecem a Deus no profundo. Mas isso é assunto para uma outra conversa. Pessoas cometem erros a todo instante, e quase sempre os erros chamam mais a atenção do que os acertos. Estes passam quase sempre desapercebidos, razão pela qual eu criei a frase “Errar é humano. Acertar também” em contraponto a frase: “Errar é humano”.
Tenho certeza que não sou o mesmo desde a última vez que nos afastamos, nem sou o mesmo desde a nossa primeira conversa depois que nos reencontramos. Você me disse que gosta de conversar comigo porque eu sou único. “Cada pessoa é única”. E por isso, busca a minha “companhia” para um bom papo, tipo “papo cabeça” ou coisa assim. Aos poucos a gente vai se conhecendo. A cada dia, confiando mais, segredando mais. E assim, a figura da pessoa maravilhosa que sempre imaginei em você vai se tornando mais consistente, cada vez menos superficial, cada vez mais real. Mas você há de convir que é no virtual que muitas vezes as coisas devem acontecer primeiro.
“Vale mais a pena criar dez cachorros do que lidar com o ser humano”. Esta é a frase que eu acabo de ouvir enquanto escrevo estas linhas. Particularmente, eu me sinto ofendido quando ouço algo desse naipe. Repito: nada contra os cachorros. Eu prefiro, inclusive, não ter animal nenhum em casa. Isto me exime de ter que cuidar deles. Mas a cachorrinha que minha filha adotou se apegou comigo. Izabela é uma poodle grande de cerca de três anos e quando eu estou em casa ela está sempre perto de mim como uma sombra. Todos os dias, eu desço três andares para passear com ela, pelo menos duas vezes ao dia. À noite, perto da hora dormir, ela senta ao meu lado no banco da praça e eu fico meditando sobre a minha vida; sobre o que ela medita, isso ela nunca me disse. Todas as vezes que eu saio de casa, ela se anima, achando que vai sair também: pula sobre mim e pede para buscar a coleira. Não sei bem a razão desse apego. Talvez porque ela entenda que sou o chefe da casa, a pessoa que ela vê chegar com a comida; sou eu quem traz a sacola com a ração. Por fim, toda vez que chego em casa, não importa o tempo que passe fora, ela me recebe com festa. Eu tenho que me sentar no sofá e “sofrer” pelos menos cinco minutos de manifestação de puro amor e carinho.
Ocorre que é impossível domesticar o ser humano. Contudo, sei que as pessoas podem ser transformadas pela renovação do nosso entendimento. Não é fácil moldá-las ao nosso jeito de pensar ou agir, porque as pessoas são dirigíveis e não manipuláveis como se imagina. As pessoas precisam ser conquistadas, no meu modo de entender. E isso só possível quando há amor e, por conseqüência, confiança.
Mas são apenas palavras, a parte invisível de ações que esperaram para serem praticadas. Esta é a diferença entre o virtual e o real.
Quando desliguei o meu celular, observei no mostrador que tinham sido vinte e seis minutos de uma boa e agradável conversa. Ainda não quebramos o nosso recorde: cinqüenta e quatro minutos. Você disse coisas que me fizeram me sentir bem: não sei se serei capaz de reproduzi-las fielmente: “se nada saiu como você desejava, relaxa, tente de novo… se nada saiu como queria, respire fundo…”. Você também queria me ouvir, e saber como eu estava, essas coisas.
- Eu não gosto quando você fala assim!
Em outras palavras, você quis dizer que eu tenho que acreditar mais em mim, que eu sou mais capaz do que eu suponho de alcançar aquilo que eu desejo, que eu tenho muita força pra isso, que você torce por mim. Ao contrário do que você possa imaginar a princípio, eu não fiquei magoado, em momento algum. Eu gostei da sua sinceridade. Você foi espontaneamente sincera. Há uma diferença muito sutil entre ser franco e ser sincero. A sinceridade é autêntica sem, contudo, machucar nossos sentimentos. Já a franqueza beira as raias da falta de educação. É um jeito bruto de dizer uma verdade que na maioria das vezes é melhor que não seja dita.
Vou ficar feliz de ter-te conduzido até estas últimas linhas. Segundo pesquisas, a grande parte das pessoas não vai além das vinte linhas, especialmente se o texto não despertar o mínimo interesse. O motivo condutor deste texto é te agradecer pelo carinho. Aquela frase ainda ressoa em meus pensamentos; como que dizendo: te amo, te amo, te amo… e não quero que você pense mais desse modo.
Escrevi-as só para te agradecer pelo carinho. Fique a vontade para me dizer quantas vezes for preciso:
- Eu não gosto quando você fala assim!
Sete palavras que me marcaram profundamente no nosso papo.
Este texto faz parte da coletânea Alma Nua de Ivo Crifar, pela editora Baraúna.