O SONO ROM (RONC,RONC,RONC)

Os especialistas – sempre os especialistas – depois de seu último congresso internacional vêm nos acordar para nos deixar ligados nas novas descobertas que têm feito acerca do sono. A quantidade, a qualidade, as causas e os efeitos das boas e péssimas noites de nossa pausa para o corpo descansar. Descansar na nossa idéia, pois, segundo eles, a gente está, na verdade é com uma parte relaxando e outra continuando o seu trabalho de revitalização, realimentando as células e renovando o corpo e a mente para o dia seguinte. Entendi popularmente que é como dormir com um olho fechado e outro aberto, próprio das pessoas desconfiadas ou de rabo preso com algum mal feito. Xi! O mundo só deve dormir pela metade e olhe lá! Descobri que existem basicamente na ciência sonológica, os sonos REM e não-REM. O primeiro, profundo, relaxante, com a guarda totalmente aberta e o outro, o tal de não-REM, é o vigilante.

Entre eles, incluo o ROM, que é o ruído meu e de muita gente boa que costuma não deixar ninguém ter o seu REM e às vezes acordar-se com o próprio barulho do ROM, de tão alto. Tenho guardada até hoje comigo (nem sei para quê), uma fita cassete com a gravação de um ronco de um colega de quarto nos meus tempos de estagiário. Ele não acreditava que fosse possível emitir um urro tão leonino e eu não acreditava que iria ter que passar os próximos seis meses sem conseguir dormir. A casa só tinha um quarto e o chão da cozinha era gelado demais para colocar o meu colchão. O banheiro só me cabia em pé. Posição que não é lá muito agradável de se dormir. A gravação foi uma prova contra a sua descrença e uma vingança ao mesmo tempo, já que o esperava adormecer e ligava o toca-fitas. Ele acordava para me xingar que o barulho o estava incomodando. Não ficamos inimigos por isso. Passei a beber algo forte antes de deitar e aí um ronco passou a combater o outro. Assim dormíamos. Se bem ou mal, não sei até hoje, mas continuo roncando. Tive uma tia a quem admirava muito e, quando criança mais ainda, na hora em que ela dormia. A diversão em casa era ir ao quarto quando ela pegava no sono para curtirmos a sinfonia. Ela dava um assobio antes do gutural groaarrrrrr (vou ver se descubro uma onomatopéia melhor), essas dos quadrinhos (ronc, ronc, ronc,), não estão com nada em termos de representação de ruído de sono.

Consegui com os especialistas (ah! os especialistas, sempre eles) um alento para minha autopunição por gostar de dormir durante o dia. Sempre achei uma justificativa de que o hábito veio de anos trabalhando em regime de revezamento de turnos, não querendo nunca admitir que fosse preguiça mesmo e eles, de novo, dizem que há certa hereditariedade nos sucessos e transtornos do sono. Há dorminhocos e insones por culpa exclusiva de seus ancestrais. Quer ver meu pai dormindo? Coloque-o sentado em frente a uma televisão. Antes achava que dormia por enfado da programação. Mas não, dorme até em jogo do Flamengo, seu único time do coração. Se estiver em uma mesa ou numa roda qualquer e a conversa parar, não resiste a cinco minutos do silêncio. Não chega a roncar sentado, mas dorme com a boca aberta até os cantos das orelhas. Eu também já dormi até em cadeira de dentista, em túnel de tomografia e em mesa de bar. Nesse último caso houve ajuda externa ao metabolismo basal.

E, por último – palavra dos especialistas – a morte é igualmente inevitável para quem dorme mais ou menos. Não vive mais quem dorme muito e vice-versa. O que importa é a qualidade que o sono tem. Só ofereço o meu lamento a quem vive com um(a) companheiro(a) com sono ROM. Esses não dormem nem bem nem mal.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 28/02/2009
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