Amores Modernos
“A modernidade me assusta. Assusta quando atinge o lado do coração”, foi por essa afirmação que vi aos poucos minha identidade ser formada. Eu, que sempre tive medo do escuro e de bichos voadores, me vi com medo do amor. Não o amor dos contos, esses bonitos de novela, mas desse tal amor moderno.
A besteira é quando acreditamos que, só porque aos nossos olhos o mundo é igual, não existe um lugar para que a gente possa viver o nosso jeito tranqüilo, e por essa incerteza acabamos negando o próprio medo do amor moderno. Bom, ai é agüentar uns dias de soluço, uma dor aguda que não se sabe por que permitimos acontecer, porque quem tem medo, sabe que a culpa pela dor é só sua.
Sortudos aqueles que são medrosos, que se negam a acreditar em declarações vazias, em sinceridades faladas, porque, hoje, fala-se muito mais em ser sincero do que se vive a sinceridade.
Em tempos que não é preciso mais sair de casa para conhecer pessoas, que a vida online toma muito mais tempo do que um conversa de calçada, ama-se pelo que se pode ter em troca, vive-se das possibilidades. Em um dos seus textos o Pe. Fábio de Melo fala que "a angústia nasce das possibilidades", o amor virou um mercado. Não existe mais o compromisso, a superação, o crescer juntos. Espera-se alguém pronto, gente perfeita pra viver de risos. Corações que não se contentam com um. Querem dois, três amores e mais duas paixõezinhas só de carnaval. Amor do mundo que não se sente bem com o que tem.
Planeja em rostos desconhecidos felicidade que almeja. Por certo nem todos os sonhos se realizam, e mais certo ainda é que nem tudo que se espera realmente é. Mas as pessoas têm pressa, tem uma urgência de se ouvir amado e se entregam, se perdem em verões sentimentais. E é nesses momentos em que o coração cansa e vê em rostos desconhecidos a chance de ser feliz de novo. Talvez por alguns meses ou alguns anos. Gosto de quem se reserva o direito de amar e viver a moda antiga, e sei que muitos, apesar de camuflados pelo mundo, vivem dessa forma.
Precisamos de mais sinceridade no coração, para ver um pouco mais a frente do que os olhos permitem, um pouco mais de paciência para não tropeçar nos amores, não confudi-los e principalmente um pouco mais de juízo.