Quero ser verde
Estava cansado. Cansado de não ver resultados, de lutar em vão. É normal, a gente pensa que pode mudar o mundo, estamos empolgados praticando o bem, mas quando a gente se dá conta de que sozinhos não vamos muito longe, pensamos logo em desistir.
Com ele não era muito diferente. Ele pensava mundialmente, queria gritar bem alto, fazer-se ouvir, mostrar o quão absurda eram algumas atitudes e como seria simples uma mudança em conjunto.
"Fugere Urben et Carpe Diem" era seu lema nos fins de semana. Era entre as árvores que Felipe respirava aliviado. Sem o peso do concreto, sem o barulho constante e desnorteado. Sentia-se em casa.
Ele cheirava a terra molhada e estava sempre fresco pela brisa, assobiava com os pássaros, olhava por horas as grandes árvores e inúmeras vezes desejou ser árvore também. Ficar ali no meio do verde, imóvel servir de abrigo, de sombra. Tinha medo de ser cortado ou queimado, então fazia planos de ser árvore em reserva florestal, seria mais seguro.
Desejou ser água, e sair da nascente e correr pro mar, fazer a alegria das crianças, dar vida aos homens e chorar lágrimas salgadas de saudade no mar, mas tinha medo da poluição, dos esgotos, do lixo, da imprudência do homem.
Por uma vez desejou ser da fauna, não conseguiu escolher um animal, ele queria ser todos. Queria pular pelas árvores, correr no campo, nadar nos rios, voar no céu. E pensou nas caças, na poluição, pensou em sua possível extinção.
Ser homem já não tinha tanta graça, não estava livre de todos os perigos. Tantos homens passam fome, tantos são envenenados pela poluição alheia, tantos morrem pelo próprio egoísmo humano.
Melhor ser verde. Ele queria ser verde. E viver o quanto pudesse na natureza.