Meus tempos de escola
Eu não era daquelas alunas brilhantes, nem das atrasadas. Sempre estava no grupo do meio. Meus boletins demonstravam sempre a letra B; conceitos que valiam o mesmo que notas. Pra quem tirasse A: 9 ou 10; para a letra B, 8 ou 9; e para a letra C:6 ou 7, porém triste era para os que tiravam D: valia por 4 ou 5.Sempre fui péssima em Desenho, na Matemática escapava na base da decoreba. As matérias que realmente me deixavam fascinadas eram: Português, História, Geografia e Ciências. Alguém pode dizer:Mas como ela poderia gostar tanto de Português, e hoje escrever ruim desse jeito? A resposta virá no devido tempo.
Nas aulas das matérias que me fascinavam havia textos mimiografados, ou tirados do quadro de giz para o caderno; como em casa os únicos livros que tínhamos eram os que passavam dos tios para os sobrinhos, e dos irmãos mais velhos até enquanto estivesse em perfeita condições de uso, o maior prazer era deitar na cama e se deliciar com aqueles pequenos textos.
Lembro de dois livros que foram usados por minha tia, depois passou pra minha irmã; vivíamos na expectativa do dia em que o livro seria nosso. E depois de uns anos, chegou a minha vez. Os livros eram: A Mágica do Saber, dos autores: Thereza Neves da Fonseca e Icles Marques Magalhães. E depois tive o de História Geral, do autor, Antonio José Borges Hermida, edição 1972. Minha tia estudou no início dos anos 70; Minha irmã por volta dos anos 80. Tenho até a data do dia que o livro chegou às minhas mãos: 31 de novembro de 1988, e o professor foi Djalma!
Havia um cuidado maior com os livros. Na contra capa de um deles que livrei de ir pro lixo, ainda está escrito a seguinte mensagem:
¨Quem pegar esse livro, não fique com ele não.Se com ele ficar, eu grito:Peguem o ladrão!
Esse livro é do meu estudo, e o tesouro do meu saber.
Pra mim será muito triste, se esse livro se perder¨.
A pessoa que escreveu essa mensagem tinha o sobrenome Torres, era da quarta série primária, e morava na Rua Córrego do Cajueiro, Nº. 94. O primeiro nome está coberto por uma folha de revista que cobria o livro para protegê-lo de quaisquer danos.
Quanto aos livros citados por mim que tinha passado da minha tia até chegar às minhas
mãos; tenho-os até hoje e não consigo me desfazer deles.É mais forte do que eu.
Como os alunos eram pobres, e o Governo não doava livros, os professores coitados faziam malabarismo para ensinar, cansando-se demasiadamente. Passavam horas e horas copiando no quadro, ou então, escrevendo textos para passá-los no mimiógrafo, pra depois distribuir com os alunos. Não havia biblioteca nos colégios, e todo trabalho eram feitos em cima desses textos e se o aluno tivesse o privilégio que eu tinha; de ter velhos livros em casa, poderia acrescentar algo ao trabalho.
Confesso que tenho até hoje dois problemas: Quanto mais eu compro livros, mas tenho desejo de possuí-los. Também não sei ler um de cada vez, tenho que ter vários ao alcance das minhas mãos, porque assim tenho a sensação que não vão me escapar. E para manter essa maratona, ora leio um, ora leio outro, desde que eu tenha ao alcance dos olhos; dois, três, quatro,... livros.
Certa vez a escola passou um livro de Português, que a editora iria passar por um preço bem baratinho. Fizeram muita pressão, e eu em casa completando com um apelo. Meu pai, coitado, fez um esforço e mandou o dinheiro para a escola. Quando o livro chegou, eu era todo orgulho. É que aquele seria meu primeiro livro. Novinho em folha, capa cor de jambo, mas o livro com as primeiras leituras começou a soltar as folhas; outros pais não puderam comprar, e a escola devolveu o dinheiro e nos pediu o livro de volta. Quanta frustração! Meu primeiro livro! Eu estava na quinta série do primeiro grau!
Acho que é por isso que tenho essas manias de ter livros, e colocá-los bem à minha frente. Enquanto estão ali, sinto que poderei ler, e lendo-os poderei fazer a viagem dos meus sonhos.
Não sei se alguém tem idéia de ter tido um sonho, e por mais que tenha se esforçado, percebeu que sua caminhada foi em círculo, nunca uma linha reta. Era assim que nos sentíamos. Hoje vejo nossas crianças tendo acesso a livros, bibliotecas, porém não valorizam tanto quanto deveriam. Acostumaram-se com as facilidades.
Reconheço que a educação de hoje não é tão boa quanto poderia ser, e que nossos representantes não investem tanto quanto deveriam. Mas, o conselho que eu dou para a garotada é que aproveite. Pois o que hoje me faz correr atrás, está ao alcance da sua mão. Valorize isso.