A VAIDADE VALE UMA VIDA?
A vaidade, principalmente a feminina, sempre esteve presente na história da humanidade. O conceito de beleza muda de um período para outro e em nome dela – a beleza -, vale qualquer sacrifício.
Hoje beleza é sinônimo de magreza, ou o contrário. A mulher para ser bela precisa ser magra, melhor magérrima. Pele e osso. Nós, latinas americanas, não temos a estrutura ideal para este padrão. Herdamos os quadris largos das índias, a bunda grande das negras e seios médios das portuguesas.
Nosso arquétipo é para corpos torneados, cheios de curvas, sensuais e "cheinhos". Mas, em nome da moda sacrificamos nossa estrutura, tomamos inibidores de apetite, nos tornamos escravas dos exercícios físicos, passamos fome, mas emagrecemos. Ficamos esqueléticas. Quem tem dinheiro vai a uma clínica e tira o excesso, que pode ser alguns miligramas ou quilos de gordura.
Cabelos mudam de cor de acordo com a estação. E, no momento, precisam ser lisos. Exibir cachos é uma ousadia. Entrar no salão e sair de cabelos encaracolados e pretos é quase um crime. Ou você tem muita força de vontade ou sai de lá mais para cantora de pagode do que para modelo de capa de revista.
Enquanto tudo isso não afeta a saúde tudo bem. O perigo é quando essa paranóia coloca em risco o bem-estar. Meninas que nem saíram da adolescência são submetidas a tratamentos que alteram seu desenvolvimento, agridem sua saúde. Profissionais que não respeitam as características de suas clientes/pacientes e em nome do lucro fazem as mais cruéis transformações e aberrações.
Encontrar uma mulher 100% in natura é um grande desafio. Há sempre uns miligramas de silicone, botox, correção de lábios, pálpebras, culotes, etc., não condeno as cirurgias corretivas, o que questiono é o exagero. A neurose de querer parecer anos mais jovem, de tornar-se parecida com ícones de beleza já produzidos em laboratórios (leia-se clínicas).
A luta pela aparência ideal anda na contramão do SER verdadeiramente. Do preocupar-se com a verdadeira beleza – sei que vão dizer que isto é discurso de mulher feia que não tem dinheiro para “tornar-se bonita” –, que digam, talvez seja, mas agradeço a quem me transformou no que sou hoje, em um ser mais preocupado com o conhecimento, o saber, o crescer como pessoa humana.
Se eu tenho vaidade? Claro que sim. Só não sou neurótica, nem perco noites de sono preocupada com os quilos que ganhei. Não entro em desespero com os desenhos que as estrias fizeram em meu corpo, com a geografia pouco erótica de minhas celulites, ou os desenhos, que parecem mapas fluviais, das varizes aparentes. Estão todos aqui, velhos e conhecidos companheiros que, provavelmente, levarei comigo para última morada.
*Foto: Minha mãe. Para mim exemplo de vida e verdadeira beleza. Aos 76 anos sempre diz que sua receita de beleza é não chorar sem precisão e não fazer cara feia por pouca coisa.