OUTROS TEMPOS

A internet caiu. O Windows está muito carregado, sem espaço. Preciso fazer uma “faxina”, excluir arquivos de imagens para poder salvar os textos. Um Gb de memória é pouco. Pego papel, caneta e vou escrever à sombra de uma árvore.

Nos meus tempos de infância (nem é tanto tempo assim), muito no interior, vivíamos sem luz elétrica. Água só da fonte, rádio só de bateria para ouvir as notícias. Novelas, só quando o pai estava na roça, porque era “bobagem” e não se podia gastar carga da bateria à toa. Médico? Só em casos gravíssimos, depois de caminhar uns dez quilômetros e outros sessenta em ônibus lotado até a cidade. Dentista? Só para extrair dentes e no caso de muitas cáries, se arrancava a boca inteira para colocar uma chapa – um luxo!

Hoje temos luz, TV a cabo, digital, água encanada quente ou fria, internet, notebook, MSN, skype, Orkut, microondas, geladeiras e um escambau de acessibilidades. Temos ortodontistas, cirúrgico bucomaxilofacial, periodontistas e outros do ramo. Médicos ortopedistas, ginecologistas, otorrinolaringologistas, entre muitos outros “istas” de palavras esquisitas, para todas as necessidades e gostos. E tudo tem que ser muito rápido. Quando não se consegue marcar consulta com o especialista para ontem, se é capaz de xingar desde a sua secretária até a mãe. E nas filas de bancos, no trânsito? Coitadas das mães de todo mundo! Se o programa do computador demora uns segundos há mais para abrir, ficamos ansiosos, vivendo “longos minutos” de pura angústia. Sem a internet então, fica-se como o colono sem a enxada, pá, arado ou trator (deve ser por isto que se chama também de ferramenta), parece que foi o mundo que caiu e não apenas a conexão virtual.

Em outros tempos, nas férias, as crianças brincavam muito com os amigos, na rua, no campo, no rio, nas árvores, no mar (quem tinha acesso). Dentro de casa se jogava pife, moinho, dominó, se contava histórias, ou se lia livros, revistas, jornais, conforme a disponibilidade. Hoje vejo crianças e adolescentes “curtindo” as férias dia e noite em frente ao computador, nos games, interagindo com um monte de “amigos”, namorando e até “casando” nas salas de certos sites. Se a internet cair, ficam entediados, quase deprimidos, vagando pela casa, como se não tivessem nada mais a fazer. A vida parece vazia.

Ah! Se fosse ao meu tempo...