VIVER NA ESPANHA _ 2 _

O dia realmente tinha amanhecido em Valdemoro-Madrid, que seria como um bairro, mas aqui se diz Pueblo e se localiza ao sul de Madrid.

É inverno, o marido porteño já amanhece buscando sua carteira de cigarros, me dá ordens de arrumar a cama. Eu, completamente dura de frio, e ainda assustada com as mudanças de horário. Por fim levanto, vou ao banheiro escovar os dentes e lavar a rosto, logo desisto, a água é congelante, faço xixi, saio do banheiro, comento com Nano da água, ele diz... Tem que esperar um rato (que em espanhol quer dizer um tempinho! Detesto essa palavra), volto ao banheiro espero un rato!!! Realmente a água estava pegando fogo, tem que viver aqui uns 2 meses para aprender a deixar a água no ponto certo, escovei os dentes mal escovados como imaginava.

Vamos à desayunar (café da manhã), tomamos um café com torradas. A porteña Soledad sai para levar a filha Valentina para a escola, o ilustre, Raul, vendedor de carros na fábrica da Citröen, mas com um leve comportamento de dono de todas as filiais da Citröen já tinha saído cedinho para trabalhar.

Pergunto a Nano... Que faremos hoje? Responde Nano: Vamos à escola de idiomas, onde eu estudaria. Tenho um visto de estudante e também porque não sabia falar muito bem o castelhano, Não pensem os senhores que meu porteño fala castelhano comigo. Até hoje só fala comigo em português, perfeitamente por sinal. Aprendeu escutando músicas do Brasil, então, por isso tive que aprender castelhano na Escuela de Idiomas de Valdemoro.

Vamos à escola, em Valdemoro mesmo, a escola bonita, grande e organizada. Entramos, todos dizem buenos dias!! Si, si, buenos, Nano faz as perguntas necessárias. O senhor que nos atendeu disse que eu tinha que ir à parte da tarde falar com uma senhorita que faz a matrícula.

Voltamos para casa andando, um pouco distante e um frio que não sei explicar. Como já disse, nasci em Aracaju – Sergipe, onde em um dia de chuva, quando ainda era pequena, saí com as tampas das panelas da mamãe, brincando de banda marcial de 7 de setembro até que acabasse a chuva.

Depois da chuva o sol novamente é o protagonista. Pensava: Meu Deus, tenho que me acostumar, vou conseguir. Que frio, Jesus. Que é isso? Quanto mais andava, mais o frio aumentava, cheguei ao ponto de dizer já sem suportar: Mas que loucuraaaa e essa? Como vive essa gente em um frio desses? E essas crianças??? Coitadas, que absurdo...

Já estão acostumados, amor... Respondo com mais raiva ainda dessa palavra ACOSTUMADO... Como pinguins? Quer dizer que esse povo é pinguin? Que já estão acostumados como os pinguins??? Olhe, Nano, não tente me enganar que ninguém se acostuma com isso... Nano ria suavemente e, a propósito, ele estava com um frio da... Mas nada dizia. Suas mãos estavam roxas e a boca igual.

Na caminhada para casa, mesmo com frio, observava as pessoas e as vestimenta, as casas. Tudo olhava. No caminho da escola até a casa de Soledad vi chalés lindos, um juntinho do outro, as árvores, coitadinhas... Sem folhas. Só as carcaças, vi muitos bares cafeterias.

Nano avisa: Temos que atravessar a rua, um carro para na faixa de pedestres, está totalmente parado, Nano atravessa, eu fico lá, parada. Atravesse, disse Nano. Eu olhei a cara do motorista e passei rápido. Aqui no paso de cebra (que e a faixa de pedestres) é obrigatório parar para as pessoas passarem... Olha só, digo a Nano, que bacana! Mas até hoje não me acostumo com isso e olho para a direita e para a esquerda, para frente e para trás. Mas vocês não sabem como é gostoso você aparecer na faixa de pedestre e, imediatamente, o carro pára... Que coisa mais lógica essa lei, verdade? Como minha mãe diz, gente é gente e carro é carro, uma lata.

Continuo andando e logicamente com frio, os espanhóis andando pelas ruas com uma cara normal como se nada estivesse acontecendo, e eu cada vez com mais frio.

Chegamos outra vez na casa de Soledad. Ela já estava em casa, não trabalhava nessa época (atualmente é secretária de um empresário e ganha muito bem, isto em poucas horas). Ganhava do governo um saldo que aqui se chama PARO que a seguridade social paga (e muito bem), aos desempregados. Soledad é argentina, mas tem nacionalidade espanhola por parte da família do pai. Por isso tem direito. Soledad sempre está arrumada, sai rapidamente para comprar alguns cosméticos. O marido, chefe da casa vem almoçar e a esposa prepara a comida.

Chega Raul, todos se sentam. Ela traz a macarronada e junto uma barra de pão, seria como uma espécie de baguete, aqui se come tudo com pão, de manhã, de tarde e de noite. Comemos, estava tudo muito gostoso. O poderoso chefão argentino sentado na cadeira principal, essas semelhantes àquelas onde se sentam os reis, na ponta da mesa, comendo bastante e falando bastante, e o tema discorria sobre seus negócios. Ele tem certeza que é um empresário e não um vendedor. O almoço acaba e o chefe da casa volta ao trabalho, Valentina ainda na escola, Soledad nos leva ao quarto escritório onde lá esta o computador e nos ajuda a achar em um site chamado segundamano o nosso apartamento que queremos alugar, ligamos para várias pessoas e marcamos para ver o apartamento no dia seguinte.

Acabamos o assunto aluguel, fomos para sala assistir televisão. Estava passando um tele-jornal, a apresentadora dá as noticias, eu entendia algumas coisas, não se via noticia como as do jornal mais importante no meu país, como por exemplo... O deputado fulano de tal foi acusado de desviar dinheiro. Nem se via noticias sobre traficantes comandando a cidade. Eram noticias suaves e sobre o clima e também do rei Juan Carlos e da rainha Sofia.

Depois apareceram outros programas como o Gran Hermano España (uma espécie de Big Brother), onde a indicação dos componentes é totalmente diferente da versão brasileira. Até um travesti estava presente. Vi programas ainda era pelo dia com cenas fortes se sexo, aqui não tem como no Brasil um horário adequado para este tipo de cenas, é tudo liberal, hoje descobri o motivo da liberdade espanhola. Depois da ditadura de Franco, tudo mudou para os espanhóis.

Continuaremos amanhã, com fé em Deus, beijos para todos e que aproveitem esta história, pois, ao largo dos dias aparecerão muitas surpresas que farão parte do meu livro.

Geo M
Enviado por Geo M em 26/02/2009
Código do texto: T1458889
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