MUNDO ENCANTADO

Ela tem um amor esperado, que nunca viu, mas sabe que ele existe,

e seu coração, alimenta esta espera.

Tomada por esta certeza mentalmente, criou um mundo só para eles.

Em seus pensamentos localizou este mundo um lugar bucólico, numa clareira, aberta em um planalto afastado da cidade, com muitas árvores e flores plantadas, onde as abelhas buscam o néctar para fabricar seu mel e os pássaros cantam pela manhã festejando o novo dia, e a tarde fazem suas revoadas, indo depois, descansar nos pés de cravos que, ao anoitecer, exalam um perfume suave.

Nesta clareira, em seu mundo mágico, construiu uma casa de madeira, humilde e aconchegante, tendo a frente uma varanda com o parapeito cheio de flores dentre elas muitas violetas (a violeta é sua flor preferida), e ao canto uma cadeira de balanço com uma almofada. Tem também, uma escada que leva para o terreiro e pouco adiante, uma estrada que some por entre as árvores.

A sala com piso de tábuas largas, muito limpo, tem ao canto uma mesa tosca, coberta por uma tolha de crochê, feita com pontos delicados.

No quarto uma cama de casal coberta com colcha de retalhos, costurados a mão, pedaço por pedaço, e um grande baú de madeira.

Nas janelas cortinas também de crochê, com os mesmos pontos delicados, da toalha que cobre a mesa da sala.

E na cozinha?

Um fogão feito de tijolos, rebocado e pintado de branco, com chapas de ferro e um forno tosco para assar pão. Com chaminé até ao teto, fica sempre aceso, como se preparado para fazer o café na chegada de seu amado.

Ao longe se ouve o barulho das ondas, batendo contra o penhasco, emitindo fortes ruídos nas pedras, já corroídas pela erosão, que formou belos desenhos e recantos para as algas e pequenos peixes.

Toda tarde ela senta e fica ali, sonhando na cadeira de balanço.

Desde tenra idade este amor a alimenta.

Hoje, já com cabelos grisalhos e o rosto ainda trazendo traços de uma beleza, que como as rochas, foi corroída pelo tempo, sonha

em seus momentos de devaneio o vê chegar aparecendo por entre as árvores.

Abraçam-se e sentam-se na escada da varanda onde as pétalas secas das flores os acariciam, já com o clarear da lua e o piscar das estrelas.

E se amam... se amam, e ali mesmo adormecem.

Após algum tempo, ela se levanta, deixando-o em seu sono e, vai se recolher no seu mundo real, na cama de seu quarto em seu apartamento.

Lagrimas nos olhos, coração doendo, porque, na realidade, tudo é só um grande sonho no seu viver virtual, com seu grande amor, unilateral.

Amanhã tudo recomeçará neste seu mundo autista.

Lneves
Enviado por Lneves em 26/02/2009
Reeditado em 23/04/2009
Código do texto: T1458875
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