O que é bom dura para sempre

Confesso que já gostei de me sentar em frente à TV para assistir ininterruptamente a programação (com pausa para o lanche e outras necessidades, apenas na hora dos comerciais). Isso já faz algum tempo.De lá para cá, fui me distanciando da telinha, a medida em que as programações apresentadas foram se aproximando do que eu chamaria de “inutilidade pública”.

Imagino que deva ser realmente muito difícil criar, dirigir e manter, programas que prendam o interesse . Uma vez que as imagens atravessam a massa de telespectadores dos mais variados padrões sociais e conseqüentemente culturais.

Não estou aqui para achincalhar e exigir uma revolução televisiva, pelo contrário, acredito que o controle remoto é uma ferramenta que nos permite escolher entre perder tempo ou ganhá-lo. Entre o “on” ou “off”, tenho sido seduzida pela segunda opção, com a consciência de que sou um número a menos no IBOPE, para a soma dos desfiles de lingerie da Luciana Gimenez; das apelações sem graça das novelas da seis, das sete e das nove; do sensacionalismo do Gugu e a falta de educação do Faustão; do humor decadente da Praça é Nossa e Zorra Total. E por aí vai!

Entretanto, outro dia fiquei surpresa, quando percebi meus filhos assistindo ao programa do Didi e soltando gargalhadas contagiantes. Nossa! (Pensei). Eu já senti isto assistindo aos Trapalhões, no tempo em que eram quatro (Didi, Dedé, Zacarias e Mussum). E o Didi, este ator formidável (pois não é qualquer um, que apesar da velhice parece uma criança), consegue manter um programa no ar durante tanto tempo, arrancando gargalhadas de diversas gerações. Perdeu um a um seus mosqueteiros, mas não perdeu a graça.

Me vi então, contando aos meus filhos sobre os programas que me encantaram quando criança, e que eles também adoram. Falamos das mudanças do Sitio do Pica-pau Amarelo, que continua preservando a deliciosa magia do irreal. Dos desenhos animados do Walt Disney e Hanna Barbera, que continuam atualíssimos sem precisar de nenhum “remake”. Dos super heróis comprovadamente imortais. Enfim, me vi trocando figurinhas com garotos de 6 e 10 anos de igual pra igual.

A televisão neste momento conseguiu, além de me remeter de volta ao passado, me trazer um presente antigo, sem cheiro de mofo ou estilo “démodé”. O passado está aqui sem um amarelado sequer, colorindo mais uma vez a infância das crianças, numa nova geração. Da mesma forma que fez com a minha.

Fico imensamente feliz, ao constatar que apesar da desenfreada evolução na qual vivemos, as crianças continuam com os mesmos sonhos, fantasias e inocência. Que os contos de fadas não precisam ser refeitos ou desfeitos para encantarem. Que a soberania do que foi bom, não consiga ser substituída por programações vazias e descartáveis (como tem sido a dos adultos).

Reformulo, portanto a frase que diz: “O que é bom dura pouco”. Não senhores, o que é bom dura para sempre. Seja na lembrança, no coração ou na tela da TV.

Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 26/02/2009
Reeditado em 26/02/2009
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