Inocência Perdida, Medo Adquirido
Andar e correr, movimentos básicos e instintivos do homem. A partir deles, toda a evolução foi possível. O homem atualmente aplica estes movimentos, entre outras coisas, no lazer, esporte e na diversão. É na infância, no primeiro ano de vida, que os inéditos passos são divididos rapidamente por pequenas corridinhas. Logo adquirimos a “liberdade” de irmos onde a nossa vontade nos envia.
Crescemos um pouco e o mais fantástico brinquedo inventado, a bola, fará parte de nossas vidas por muito tempo. E antes dos condomínios fechados, atrás de grades, existirem, brincávamos na rua. Meninos e meninas. Futebol, queimado, pique-esconde e pique-bandeira... Pausa para beber água da bica, já que naquela época ninguém ficava doente ou morria por isso.
Benefícios? Muitos. Raios solares saudáveis para a fixação do cálcio, exercícios aeróbicos, fortalecimento dos músculos, desenvolvimento do controle motor e equilíbrio, contato com outras famílias, alunos de outras escolas e eventualmente outras realidades sociais. (sempre tinha um “pobrinho” que deixávamos jogar). A rua sempre foi democrática, livre, uma sala de aula da vida.
Hoje? Condomínios hermeticamente fechados (mais fácil entrar em Bangú II que em algumas ruas do Jardim Pernambuco). Áreas de lazer mínimas em prédios igualmente mínimos. Crianças correndo em 20, 30 metros quadrados lembrando os pequenos ramsters em suas gaiolas. Pouco sol, vídeo games que só estimulam partes do cérebro que estão intimamente ligadas ao stress (crianças “viciadas” em alguns jogos eletrônicos chegam a ter insônia ou sonhos intermitentes com os jogos), convivência com crianças do mesmo padrão social, mesma escola, mesmos brinquedos. Padronização banalizada. Chegam ao ponto de, quando adolescentes, terem rivais do condomínio do outro lado da rua. Quarenta metros de sua casa e são inimigos !
E aquela criança que corria na rua? Hoje se algum ser humano correr na rua, não importa a idade, criança, jovem ou adulto, olhamos assustados, esperamos um grito de “pega-ladrão !”, trancamos a porta do carro, o coração bate mais forte, lembramos da “bala-perdida” (que na verdade, infelizmente, é geralmente encontrada) e observamos a cena apreensivos. Ufa... É apenas um “moreninho” correndo pra não perder o ônibus.