AS FESTAS DA MÔNICA
A Mônica é uma figura dessas que ninguém deveria deixar de conhecer e o melhor momento para isso é numa festa em sua casa, o que ocasionalmente ocorre - verdade que hoje com menos frequência, mas ainda ocorre - como foi a última por ocasião de seu aniversário dias atrás.
Ela é uma professora de lingua portuguesa e literatura, o que a coloca num patamar cultural acima dos pobres mortais. Mas o motivo pelo qual eu digo que todos deveriam conhecê-la nada tem a ver com o seu alto nível de cultura, mas pelo seu alto nível de bom-humor e seu astral elevadíssimo. As festas da Mônica são a prova de que alegria e diversão nada tem a ver com fartura, relacionamentos perfeitos, sucesso profissional, ausência de problemas e coisas do gênero. São reuniões de pessoas na sua maioria maduras - na casa dos 40 para 50 anos - que viveram a juventude nos maravilhosos anos 70 e 80. Digo na sua maioria porque participam também jovens como os filhos, os sobrinhos e os amigos destes, além da sempre marcante e indispensável presença da mãe da Mônica. As músicas que dominam o ambiente são aquelas preciosidades que embalavam as festinhas de garagem e as famosas discotecas que explodiram mundo afora naquela época, além de muita música brasileira como samba e jovem-guarda. De Bee Gees à Roberto Carlos, de Benito di Paula à Glória Gaynor, de Queen às Frenéticas se toca de tudo um pouco. Com o teor alcoólico subindo, a coisa vai esquentando. À certa altura da festa a Mônica vai ao seu quarto e tira do baú um monte de peças de roupas, que sabe-se lá quem teria usado aquilo um dia e distribui, sem distinção. Vestidos, blusas, xales, plumas, saias e até perucas. Cada um veste o que pegar. Dá pra imaginar a cena. Homens com vestidos e perucas, com plumas em volta do pescoço, mulheres com meias pretas desfiadas, enfim, um verdadeiro desfile de horrores, que é pura diversão. A anfitriã tem muito samba no pé e depois que o vinho chega às alturas, ninguém segura essa mulher. O ponto alto da festa - porque sempre tem um ponto alto - é quando a Mônica para a música e apresenta seu momento cultural. Nesse instante todos se posicionam em sua volta e ela traz uma surpresa sempre muito agradável, é um momento sério, mas descontraído. A declamação de um poema(que ela faz com maestria), a interpretação de algum trecho de peça teatral ou algo do gênero. Ela é ótima nisso. Na última festa teve até a execução do Hino Nacional Brasileiro, do Hino à Bandeira e do Hino à Independência, com direito a posição de sentido e mão no peito. Sabe que eu não cantava nenhum deles há tanto tempo que senti algo diferente naquele momento, uma espécie de orgulho de ser brasileiro. E ao olhar ao meu redor e ver tanta gente alegre, pessoas maduras brincando como se tivessem ainda seus 18 anos, me senti mais brasileiro do que nunca, pois acredito que só um povo como nós carrega essa juventude vida afora. O mais gostoso é que ninguém bebe em exagero, todos conhecem seus limites e a brincadeira é muito saudável.
Quando a festa entra madrugada adentro o irmão da Mônica comanda a cozinha e prepara um caldo pra levantar a galera. É uma espécie de ritual, ninguém sai da festa antes do caldo. O ambiente alto-astral é tão bom que quando a festa vai chegando ao fim, já ficamos com vontade de que logo tenha outra, porque nas festas da Mônica a gente se sente como se tivesse vivendo nos maravilhosos anos 70 e 80. É uma verdadeira volta ao passado com um toque de alegria inigualável e sem sentimentos de melancolia, ao contrário, o sentimento de ter a experiência de vida que nos permite ser nós mesmos sem esquecermos do que fomos quando jovens e como queremos ser sempre.