Livin' in America - O Oscar, as Olimpíadas e o Declínio do Império Americano

Esta semana, o filme "Quem quer ser milionário?", ambientado na Índia, com elenco indiano e retratando a vida dos pobres naquele país, foi o grande destaque do Oscar e abocanhou 8 estatuetas, incluindo a de "melhor direção" e "melhor filme".

Não deve ser nada fácil para a indústria cinematográfica americana ter de reconhecer a superioridade duma produção independente e, pior do isto, focalizando a vida dum país emergente, sem nenhuma estrela no elenco. É claro que não podemos menosprezar o fato de o filme ser uma produção inglesa, com um diretor inglês, mas a repercussão de "Quem quer ser um milionário?" traz à baila um fenômeno extraordinário que tem ocorrido na Índia, a chamada Bollywood, isto é, o cinema produzido na Índia para indianos.

Bollywood tem se tornado um dos maiores celeiros do cinema asiático, produzindo incontáveis filmes, muitos deles musicais, e rivalizando, pelo menos entre os indianos, em bilheteria com os filmes americanos. Aliás, mais do que isto, o cinema de Bollywood também tem conquistado admiradores ao redor do mundo e atingido o status de cult.

Portanto, as premiações de "Quem quer ser um milionário?", muito mais do que a confirmação do talento da equipe britânica, é um voltar de olhos ao cinema indiano e à Bollywood, talvez até a constatação de que o cinema americano já não é tão influente e onipresente como já foi.

E, ano passado, assistimos estupefados à opulência e grandiosidade das Olimpíadas na China.

Os chineses quiseram provar sua superioridade de duas maneiras: primeiro, preparando uma abertura de cair o queixo, algo jamais visto antes por olhos ocidentais (talvez, nem mesmo orientais), depois, um festival de medalhas de ouro, ultrapassando o favoritismo dos americanos.

O inconformismo dos EUA foi tamanho, que, na hora de apresentarem a classificação dos países, os americanos optaram por somar o total das medalhas ganhas, de ouro, prata e bronze, ao contrário da contagem oficial das Olímpiadas, que só contabiliza as medalhas de ouro, o que punha a China na frente.

Estes dois eventos, aparentemente desconexos, trouxeram-me à mente a seguinte hipótese: toda nação dominante, em algum momento da História, encontra seu apogeu e declínio, isto ocorreu com os persas, com os macedônios, com os romanos, com os otomanos, com os espanhóis, com os britânicos e assim por diante.

Durante os anos de Guerra Fria, não sabíamos qual das duas superpotências - a União Soviética ou os EUA - prevaleceria. Havia um aparente equilíbrio de forças, derivado principalmente em razão do poderio bélico destes países. Com a queda do Muro de Berlim e o fim do bloco soviético, os EUA se ergueu como a única e inquestionável potência mundial.

Mas, dia após dia, acompanhamos notícias e eventos que aos poucos ameaçam pôr em cheque esta hegemonia americana. As Olimpíadas do ano passado e o Oscar deste ano são exemplos simplórios, talvez a invasão de produtos pirateados (ou não) chineses em lojas do mundo inteiro, da boca-de-porco dum mercadão popular até às chiquetérrimas lojas de grife seja um exemplo melhor, ou a importância que a Índia tem assumido no cenário asiático, no mundo da tecnologia - fiquei sabendo que eles estão projetando um computador apenas para acessar a internet que custará 20 dólares - também seja outro exemplo melhor. Sem falarmos também na crise econômica que está abalando a estrutura da América e mandando para a rua centenas de milhares de trabalhadores.

Ou será que toda esta especulação não passa dum mero resquício do ranço latino-americano ao Imperialismo Americano?

No fundo, isto pouco importa, mas que muita gente torceu para que a China vencesse nas Olimpíadas e para que "Quem quer ser um milionário?" ganhasse o Oscar, esta é a mais pura verdade...

(Publicado em www.maosdevaca.com)