Amor de Carnaval
Finalmente chegamos ao fim de semana de Carnaval. É agora que os foliões se reúnem nas ruas e nos salões Brasil afora para festejar a liberdade e a fartura que, deveria desaparecer durante a quaresma. Mas os tempos mudaram, a quaresma não conta tanto assim e, pra muita gente, nem o carnaval conta tanto.
O espírito do carnaval mudou, envelheceu e, como nós mesmos, perdeu a inocência. Nos tempos antigos diziam “brincar o carnaval”, depois virou “pular carnaval”, hoje deve ser algo próximo à “zoar no carnaval”. Pode ser uma simples questão etimológica mas, no meu humilde ponto de vista, existe um abismo entre “brincar” e “zoar”, um abismo perigoso e estraga-prazeres.
Os carnavais de outrora eram cantados (e são lembrados até hoje) por marchinhas e sambas de compositores do povo ou de grandes nomes da música nacional. A idéia da máscara, da fantasia, abria portas para as pessoas serem quem elas quisessem por um fim de semana. Brincavam, cantavam, se divertiam e, na quarta-feira de cinzas todos voltavam a ser o que realmente eram novamente. Ninguém ferido física ou metafisicamente. Corações e corpos sãos e salvos, exceto pela ressaca, no caso até bem vinda, quase como um prêmio. Inclusive, a melancolia inerente da quarta-feira de cinzas é a desculpa pra essa ressaca física e moral, quando se percebe que o mundo real está aí novamente, para ser enfrentado até o próximo feriado.
Foi nesse clima de máscaras e personagens que surgiram por aqui, trazidos da Comédia dell’arte italiana, os palhaços Pierrot, Arlequim e Colombina, figuras bastante famosas do nosso folclore carnavalesco. Mas quem são eles?
O Pierrot é apaixonado pela Colombina mas não é correspondido, representa o amor, é um sonhador, tradicionalmente retratado com uma lágrima escorrendo pelo rosto e vestindo blusa e calças bufantes brancas. Colombina é uma moça esperta e bem humorada, apaixonada pelo Arlequim e com ele gosta de brincar o carnaval. Arlequim é o malandro brincalhão, que sai pelas noites de carnaval tentando encontrar o seu par, a Colombina, mas enquanto não a encontra, engana os marmanjos, rouba beijos das moças desavisadas, os doces das crianças e se diverte de montão. Ele é caracterizado por uma roupa de losangos coloridos e cara de palhaço alegre.
Hoje em dia o Pierrot prefere ficar em casa, há muita violência na algazarra dos foliões afoitos pelo excesso. O Arlequim continua aprontando das suas, mas ultimamente o pessoal anda violento e ele acaba saindo ferido de suas traquinagens. O coitado quase que morreu ano passado. A Colombina não se dá mais ao respeito, não espera mais o Arlequim brincalhão, anda preferindo algo mais radical, como esses rapazes sem nome, sem camisa e sem delongas.