Um Homem Fora de Série

Eu ainda garoto acostumei-me a ver um rapaz alto, forte de pele avermelhada, andando pelas ruas da Vila Industrial, principalmente na minha querida Rua Carlos de Campos.

Ele era conhecido de todos. E tinha uma especialidade: comia muito qualquer coisa.

Segundo o meu pai me contou, o pai desse moço tinha um açougue e fazia lingüiça pura de porco. Então o moço saia para vender lingüiças a domicílio, com uma charrete na qual havia um local bem limpo e arejado onde cabiam 30 quilos da mercadoria.

Quando ele retornava ao açougue, trazia o dinheiro de 25 quilos, pois toda vez que ele ia mostrar o produto para os fregueses, ele comia uns dois gomos de lingüiça. Esta era uma das muitas proezas do nosso amigo.

Certa vez uma tia minha ia comemorar o seu aniversário e fez muitos doces, bolos, etc. Porém, como choveu muito, os convidados não apareceram devido ao mau tempo e ela, triste por ter tido todo aquele trabalho e ter uma imensidade de doces e salgados, fora duas chaleiras de chocolate, e ninguém para comer disse ao seu esposo, que era o meu tio Liberato: “ Vá ali no bar Campinas e veja se tem alguém que quer vir comer alguma coisa”. Pois já era 21h30min e a chuva havia passado.

Chegando lá o meu tio viu o nosso amigo que estava sentado num canto, devorando um sanduíche, dos 5 que ele havia comprado. Meu tio o convidou para ir até a casa dele e disse: “ Os convidados já comeram e foram para suas casas e vai sobrar muita coisa”. Então, para simplificar, o nosso amigo tomou uma chaleira de chocolate, comeu um bolo inteiro, além de comer 10 canudos de creme e ainda disse: “se fosse mais cedo eu comeria quase tudo o que está na mesa”.

E como esse caso existia muitos, como aquele das bananas.

Um senhor ia passando na Rua Sales de Oliveira com um cacho de bananas nas costas, já maduras e bem pintadinhas, e o nosso amigo falou para o homem: “O senhor poderia me dar algumas dessas bananas que está levando?” Então o dono das bananas disse: “Algumas não, mas se você comer todas do cacho eu darei”. Então, o nosso moço disse ao homem: “ponha o cacho no chão”. Ai ele começou a comer, e comeu todas as 105 bananas daquele cacho que o homem trazia.

De outra vez, em uma aposta, ele comeu uma caixa com 100 marias-moles, e ainda virava a caixa para aproveitar o coco que acompanhava o doce.

Ele era levado para apostar com outros do ramo dele. No bar Ideal, localizado à Rua Barão de Jaguará ele ganhou uma aposta de quem bebia mais água gaseificada. Ele tomou 18 copos duplos e o concorrente 10 copos. Essa água era vendida no balcão, vinda de uma torneira acoplada a um reservatório. Era a água mineral com gás de hoje.

Em outra ocasião, no bar Campinas, alguém lhe disse que gostaria de vê-lo comer aquela grande travessa de salsichas com molho de tomate. Então o nosso amigo disse: “Comerei se puder acompanhá-las de dois pães grandes”. Ai ele comeu todas as salsichas, que totalizavam 3 quilos e ainda passou o ultimo pedaço de pão no fundo da travessa para aproveitar o final do molho.

O nosso conhecido que comia muito, e de tudo tinha o apelido de Chuchão. Eu nunca soube o seu verdadeiro nome, mas era uma figura muito querida, na nossa Vila Industrial.

Laércio
Enviado por Laércio em 25/02/2009
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