CRÔNICA POÉTICA DOS HERDEIROS DE GARVAIA (Modo 12)

CRÔNICA POÉTICA

DOS HERDEIROS DE GARVAIA

(Modo 12)

Meninos, eu vi!...

O rio caudaloso onde todos vêm beber:

o quilombo e a nobreza apeada do poder...

da ermida a esguia sombra e a noite na mortalha...

o abutre da casa-grande e o cordeiro da senzala...

o falcão da catedral e a andorinha campesina...

a pomba do espírito santo e a ave de rapina...

a serpente rastejante e o condor – fênix do céu...

o descontente do rei e os contentes do bordel...

o escravocrata lapidado a golpes de melodrama...

o burguês bayroniano literomaníaco de spleen...

o cangambá morossoca tedesco-sorobacana...

o corvo republicano do golpe de Aberdeen...

O dia da lembrança de morrer...

Deixar a vida como deixa o tédio

do deserto o poente caminheiro...

A pálpebra demente

o delirium tremens

o longo pesadelo

a face macilenta

esse infinito anelo

o desespero pálido

o anêmico azevedo

o lati-sem-fúndio

a placidez do lago

a solidão do ermo

o tremedal profundo...

Afonso Estebanez

Afonso Estebanez
Enviado por Afonso Estebanez em 24/02/2009
Código do texto: T1455940
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