Falando em Carnaval

Vou dizer a todos que quando chega o carnaval eu me lembro de um samba de Alberto Ribeiro, que eu ouvi muito quando era criança, e que agora me veio a memória por tanta coisa que se tem escrito na imprensa de Campinas sobre o vira-lata Bob, neste começo de ano. O samba “Cachorro Vira-lata”, gravado por Carmen Miranda, em 1937, começava assim:

Eu gosto de cachorro vagabundo

Que anda sozinho no mundo

Sem coleira e sem patrão.

Gosto de cachorro de sarjeta

Que quando escuta a corneta

Corre atrás do batalhão.

Voltei a lembrar dos carnavais da minha infância e adolescência, que descia a Rua Salles de Oliveira para desfilar no palanque armado na sede do Campinas FC, na Vila Industrial. No carnaval, os bondes 1 e 2 da Vila Industrial, voltavam do portão da Cia Mogiana de Estradas de Ferro, ou do bar do Marcelo, para não atrapalhar o desfile.

Para simplificar, vou descrever como era a terça feira, que alguns chamavam de terça feira gorda, o último dia de desfiles. Lá estávamos nós, quase toda a Vila Industrial, esperando a passagem dos blocos, das escolas de samba, dos cordões e também dos carnavalescos com esmeradas fantasias, que faziam a alegria de todos. Por exemplo, o Sr. Figo, chefe de uma grande e distinta família. A sua fantasia era de uma portuguesa. E era tão perfeita que realmente parecia uma bonita portuguesa e ninguém poderia supor que aquela portuguesa era um dos melhores maquinistas da Cia Mogiana.

O carnaval tinha horário para começar. Ali por volta das 19:00 horas as escolas de samba, uma a após a outra, desfilavam: estrela Dalva, Estácio de Sá, Voz do Morro, e outros. Depois vinham os cordões, que eram maiores: primeiro o Vasquinho de Ouro, teve um ano em que voltou o Azul e Branco. Depois vinha o Bola Preta, após vinha o Marujo, e abrindo a participação do cordão Leões da Várzea, o último cordão a desfilar, vinha o Chussi com o seu clarim que ia enchendo os nossos corações de saudades do carnaval que para nós estava terminando. O Leão da Várzea, com sua possante bateria e carros alegóricos, com suas princesas e rainha iam atirando beijos aos presentes.

Quando parte do cordão já ia virando a Rua Pereira Lima, nós todos os acompanhávamos com os olhos, muitos dos quais rasos de lágrimas e o Porfírio, o nosso Rei Momo da Vila, atrás do cordão, com seu cetro real dava por encerrado o desfile. O resto seria saudade.

E o verso final da música da Carmen Miranda era assim:

E quando passa a carrocinha

A gente logo adivinha a conclusão

O vira-lata coitado

Que não foi matriculado

Desta vez...virou sabão.

Laércio
Enviado por Laércio em 23/02/2009
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