O QUE EU PENSO: O QUE DESEJO FAZER
 
 
         O que eu penso: “o que eu desejo fazer, neste domingo de calor de 22/02/09?”
 
         Não é nem uma pergunta, é a minha constatação. Gu telefonou: “vamos depois do almoço”.
 
         Eu não desejo isto. Sinto que minha presença atrapalha. Não estou com prazer de estar com eles. Aliás, nestes últimos dias... Percebi? Que quase nada tenho a ver com propriedades, filhos e vida. É verdade. A vida que gosto tanto, está meio desagradável.
         Saúde: coceira pelo corpo, pé esquerdo inchado, desconfio que a diabetes esteja descontrolada. Avançando.
         E o calor.
         Tenho refletido que me calei em momento que podia ou deveria ter interferido.

         Aquela vez que o pai vem e diz aos filhos, na minha frente: “ela disse pra mim que ou vocês filhos ou ela”.
         Quase uma pergunta.  
Abismamos. Estávamos em paz e harmonia de família os quatro na sala, convivendo tranqüilos. Surreal. aquela colocação era para os filhos, mas na minha frente.

         Certamente não era para me ignorar.
         Certamente que aquelas palavras aos filhos, se o era, eles não tinham maturidade nem idade para responder a tal questão vinda do pai.
         Possivelmente “confiavam que a mãe resolveria a questão”, como qualquer impasse, até hoje, é jogado sobre meus ombros.

         Eu ouvi e vi.

         Nada pensei na hora. Era completamente absurda a voz e a proposta daquele homem.

         Ele falava pra quem?
         Para sua própria consciência ou para seus filhos, incapazes de serem adultos diante do difícil?

         Eu horrorizada ou espantada, apenas senti, o que ele quer dizer, em outras palavras, era que queria restabelecer a sua,dele, infraestrutura familiar perdida.
         As crianças silenciaram chocadas.

         Eu nem senti, mas meu subconsciente dizia e , hoje, ouço finalmente: “é para você interferir, brigar e exigir que ele deixe a Baranga e volte para casa, para seus filhos, para uma mulher para transar o seu dele sexo.
         Em suma era: “ eu quero voltar aos meus hábitos antigos, e ao sexo incipiente a que estava acostumado”.

         Eu ouvia e não existia.

         Mas o meu subconsciente dizia sobre meus ombros “não, aquele sexo, aquela presença, a perda da minha liberdade adquirida, você vai fazer de você e de novo a solução dos desacertos dele”.

Mas eu não tinha esta capacidade. Nem me ocorreu.
 
         Hoje, domingo deste ignorado carnaval, eu tenho certeza que devia ter me levantada e dito com autoridade:
         – Eu repondo pelos filhos. Não é ela. Sim os filhos.

          E eu como uma Macaméia, aceitaria a voltar do viver dele em cima de mim, cerceando meu corpo e meu espírito.
E gritaria e mandaria agir imediatamente, porque aquela “Baranga de sobrancelhas roxas ou azuis” era um desrespeito aos seus, nossos filhos.
         Meus filhos, crianças, naquele momento devem ter sentido, inconscientemente, o mesmo.

         Tudo era eu, tudo era eu. Ou seja, você (eu) já está morta e ignorada, defenda-nos, salve-nos, e esta voz seria do pai e dos filhos.

         Eu deveria ter sentido isso naquele momento.
         Mas eu fiquei parada em silêncio e morta.

        
O filho menor ainda falou alguma coisa que não me lembro, ou meu coração não quis ouvir.
         Era surreal, tive só uma reação de espanto como de sobrevivência.
 

         Mas hoje, aqui nesta rede, conscientizando os primeiros pensamentos do dia eu digo a mim mesma:
         “eu devia ter brigado, gritado, ou melhor, eu devia ter comandado e dado a resposta pelos outros: entre a vontade dela e a dos filhos, são os filhos, E você despacha a criatura e volta para seus filhos”.
 
         Eu queria a minha sobrevivência, a minha liberdade conquistada com o divorcio litigioso que eu me orgulhava da minha coragem de ter feito.

         Eu não podia morrer de novo.
         Mas eu nada interferi.
         Eu já estava morta mesmo, mas pelo menos, pelos meus filhos eu  renunciaria de mim, e eu talvez salvasse aquelas vidas.

 
         Hoje não sei responder a mim mesma se quero subir com eles para o sítio ou/e suportar o calor do Rio.

         Eu nunca sei nada.
         Mas um passarinho, um selinho e um segundo, chegam á árvore da varanda e um já bebericou a água doce do dia. Agora pulou nas cordas da rede, e meu coração amansou.
 
         Oh passarinho, porque você não apareceu naquele dia?
         E em outros?
 
         Meu inconsciente desce do seu Everest e se uniu ao meu coração indefeso.
         Pois se tive força de um desquite litigioso pelo desrespeito a mim, porque não tive força de defender os meus filhos?
         Hoje, agora, esta indagação eu sei, finalmente, que devia ter atuado e “posto ordem no quartel”.
         A custa da perda da liberdade.
         Por isso, talvez, de parte a parte, está insatisfatório ir com eles pro sitio.
         Estou sempre perto mais da morte, e sempre estou recomeçando, meio que descobrindo razões para viver.
         Mas já estou morta sim. Mas quero escrever um livro antes de terminar. Mas sei que vou terminar também, e tudo que eu queria era amar e ser amada.
         Agora vejo porque os filhos não sabem fazer os inventários, não sabem agir em defesa dos meus interesses, é que eu sou aquela voz que não se ouviu naquele dia surreal.
 
         Eu não existo, mas quero botar isto num livro, pois não posso falar abertamente com meus filhos.
 
         Será que fui a responsável por perdê-los no meu coração?
 
         Se choro, preciso de uma resposta?