Carta aos portugueses
Queridos portugueses do século XVIII, venho por parte desta expressar o meu desagrado pelas construções feitas na sua época. Nada contra a beleza, isso eu consigo admirar e, em parte agrada muito minha visão, e eu falo em parte, pois alguns casarões são realmente assustadores e me causam arrepios, mas eu creio que isso é falta de cuidado e essa não era a intenção de vocês. O motivo que me traz aqui são as suas lindas calçadas de meio metro e seus semi-tetos. Como assim? Vocês devem estar se perguntando... Bem, eu lhes respondo e ainda exemplifico através de uma linda historinha. Linda não, triste... mas vamos à ela: eu hoje tive que ir ao centro histórico e comercial de São Luís (sim, é nessa cidade que eu moro) acervo dos maiores casarões arquitetados pelos portugueses; uma enorme riqueza de azulejos, decorações e todas essas coisas que turistas gostam (e que moradores deveriam gostar), considerado patrimônio histórico e cultural do mundo, pela Unesco. Sim, eu tive que ir lá, e estava chovendo litros. Como eu tinha um compromisso, eu tive que sair na chuva mesmo e, quando eu fui procurar abrigo: cadê? Os seus semi-tetos não protegiam nem as paredes de seus magníficos prédios históricos, imagina a mim, uma pessoa de baixa estatura e de corpo esbelto. Além da ausência de algo que me protegesse da chuva, tinham as suas calçadas de meio metro, que por diversas vezes me atiravam pra fora da calçada, sem dó nem piedade, deixando-me livre para ser um alvo dos carros que andavam pela rua como se não existisse nada além deles! E o que eu quero dizer com isso? Em tese, não muita coisa, pois isso é algo que vocês, que provavelmente já devem estar só o pó, não poderão resolver neste momento. Eu quero mesmo é criticar o pensamento egoísta de vocês, que não pensaram em mim quando tiveram a belíssima idéia de criar esses lindos prédios altamente mal educados, que não dão proteção e ainda nos deixam à mercê da morte. Sim, à mercê da morte! Seus telhados são altamente prejudiciais para a minha saúde, partindo-se do pressuposto de que se a chuva me atinge pela ausência de compaixão dos seus lindos edifícios e casarões egocêntricos, eu posso facilmente pegar uma doença altamente popular no meu tempo: a gripe! E da gripe vem a pneumonia, e da pneumonia o caixão e eu irei fazer companhia a vocês pelo simples fato de vocês serem estupidamente idiotas! Hoje, no século XXI (sim, eu sou da nova era ) a nossa maior preocupação é com as gerações futuras. Estamos ficando porcos pra economizar água para nossos filhos beberem, porque água é um bem que está entrando em escassez aqui, imagina isso? Logo no planeta água, falta água... quanta contradição! Mas é isso o que está acontecendo. Não me demorarei contando-lhe a desgraça que estamos vivendo hoje: tsunamis, terremotos, furacões, aquecimento global: GLOBAL... significa no planeta todo. Pensa no impacto dessas palavras: “aquecimento global” é como se colocassem o planeta pra ferver... e com todos nós dentro! Vamos morrer fervidos, da mesma forma que matamos as bactérias que teimam em sobreviver nos alimentos que comemos: isso é uma tragédia! Mas voltemos aos males das suas construções, meus queridos habitantes de um tempo distante... os meus cabelos: fiz chapinha ontem e cortei meu cabelo em um corte que eu preciso que ele fique liso e vocês me ajudam? Não! Tive que sair depois com os meus amigos e fui com o cabelo feio mesmo, sorte a de vocês que não tinha nada necessariamente interessante lá, ok? Senão eu com certeza daria um jeito de voltar pro século XVIII e matar cada um de vocês! Considerem isso uma ameaça!
E assim eu vou me despedindo, deixando explícita toda a minha indignação. Espero que vocês se sintam no mínimo culpados!