O olho mágico
Janela fechada, cama arrumada e vazia, a porta trancada. Seus olhos pareciam que queria perfurar a parede e, quase conseguia ver do outro lado e se visse, veria a rua vazia, sem ninguém e sem nada.
Talvez alguma alma penada, talvez um bandido, alguma coisa muito cruel, monstruosa, sem sentimentos, pronto para atacar alguém, ela pensava. O desespero começa a tomar conta, ela se levanta, de meia, vai até o telefone, disca, desliga antes que comece a chamar, sente um nó na garganta, um aperto no peito, vai à cozinha, pega um copo d’água e senta-se novamente na cadeira de balanço, balançava freneticamente, incontrolávelmente, aperta os dedos nos outros a mão na outra. Sai algum som de sua boca, som de cansaço. Suspiro de cansaço, angústia, temor e sono. Ouve um barulho vindo da rua, um frio na barriga, esperança grita dentro dela, olha pelo olho mágico, não vê nada, a esperança cala-se, quase chora, senta-se novamente na cadeira, desta vez encolhida e repentindo palavras para realizar sua vontade.
_ Por favor, por favor...
Suplica, imagina coisas, um assaltante, um carro dirigido por um jovem bêbado, inconseqüente e inconsciente, uma briga de rua, facas, pedras, garrafas de vidro, cadeira de bar, taco de sinuca, armas de fogo, sangue, choro, caixão, enterro... Começa a chorar, o pessimismo pesa, o nariz fica vermelho, segura o soluço, as lágrimas escapavam sem pedir licença, não tinha como segurar, a imaginação pessimista e fértil continuava, um, dois, três, soluços... Estava sozinha e quase histérica ou já estava histérica.
Barulho no portão, será real? Será imaginação? Não! Agora é verdade, a esperança grita mais alto agora, corre até o olho mágico para ver. O bendito olho mágico mostra a imagem de seu filho chegando, feliz, com passos dançantes e pouco cambaliante. Um rapaz jovem, forte, o mais lindo do mundo, um amor de menino, meu homem, pensava ela.
Ela corre para o quarto, deixa a porta entre aberta, deita-se, ouve o barulho da porta se abrindo, junta as palmas da mão, senti um alívio tão grande que seu corpo quase entra em nirvana, suspira fundo e baixo, a esperança vira tranquilidade.
_ Obrigado senhor, por ter protegido meu filho, por mais uma semana. Ave Maria cheia...