RETORNO À CRÔNICA
Retorno à crônica, de forma prosaica. E de outro modo não o faria, pois sendo a prosa o gênero de que a crônica é espécie, a esta se apropria o termo que dela deriva.
Foi lendo crônicas que um dia me vi escrevendo-as. Tão surpreendente quanto fascinante, aquela descoberta me trazia à mente os temas mais instigantes, e com eles os autores mais frequentes, cujas obras estavam ao meu alcance em minha adolescência cercada de livros. Escritores consagrados pela crônica, outros que, por escrevê-las, deram-lhes prestígio, consagrando-as e tirando-lhes o estigma de “gênero menor”, classificação equivocada a partir de tal denominação. (gênero).
Dizem que Rubem Braga é o pai da crônica. Ou, pelo menos, quem a elevou ao patamar onde sempre esteve o conto, que já nasceu célebre. Não importa. Para mim, os cronistas têm o mesmo prestígio e valor que os demais cultores da prosa, desde que a escrevam bem. E são inúmeros os que dignificam esta espécie de prosa, tão prosaica quanto bela e deliciosamente experimentada ao paladar literário de quem a ler ou escreve.
Aliás, a crônica tem algo de sinestésico na sua composição e leitura. Exala aromas de banho, cheira a café, ao que se antecede o sabor de um beijo refrescante. Traz melodias matinais e fotografias de um tempo qualquer. E não há forma mais docilmente descontraída para se começar o dia, do que lendo esses retratos literários do agora.
Lembro-me de que, no colégio, quando me propunham escrever algo, era da crônica que me valia como modelo às minhas divagações dissertativas. Hesitava alguns minutos rememorando algumas delas, mas já ali querendo ser livre, buscando o meu estilo individual. Bobagem. Ninguém começa a escrever incólume às influências, ou seja, aos modelos de que falei. O hábito de escrever torna-se um processo de aprendizagem contínuo, que se exercita a cada texto. Por isso, não ouso dizer: sei escrever, já que os mestres que me influenciaram sempre disseram o contrário afirmando: "Nenhum escritor está pronto." Digo que Machado de Assis fugiu à regra, para qual tornou-se a exceção. Ele foi o modelo acabado, de um escritor perfeito.
E foram esses mentores, personificados em Machado de Assis, Drummond e posteriormente Artur da Távola, entre outros, que me direcionaram em meio às incertas linhas escritas com os arroubos da adolescência. Machado, com aquele purismo gramatical a estilizar cada frase num contexto único que o tornou tão genial na crônica como no conto e no romance. Drummond, de quem, além da poesia, eu decorava frases das crônicas dele, algumas das quais impregnaram-me os vãos da memória. Eis uma delas: “A vida separa os amigos, que a morte vem juntar bruscamente" . De Arthur da Távola, eu bebia cada palavra ao doce sabor do amor no "MEVITEVENDO", primeiro livro dele a me chegar às mãos.
Hoje, sinto-me ligado à poesia, que já estava em mim como um sujeito oculto, evidenciando-se depois, quase a ocupar definitivamente o lugar da prosa. Prosa que meus cronistas favoritos nunca excederam na forma prosaica, vulgarizando o termo. Pelo contrário. A maioria deles chega a ilustrar suas crônicas com a prosa poética. Seja lá como for, inspiradora crônica, de forma prosaica e até piegas, aqui me tens de regresso.
Retorno à crônica, de forma prosaica. E de outro modo não o faria, pois sendo a prosa o gênero de que a crônica é espécie, a esta se apropria o termo que dela deriva.
Foi lendo crônicas que um dia me vi escrevendo-as. Tão surpreendente quanto fascinante, aquela descoberta me trazia à mente os temas mais instigantes, e com eles os autores mais frequentes, cujas obras estavam ao meu alcance em minha adolescência cercada de livros. Escritores consagrados pela crônica, outros que, por escrevê-las, deram-lhes prestígio, consagrando-as e tirando-lhes o estigma de “gênero menor”, classificação equivocada a partir de tal denominação. (gênero).
Dizem que Rubem Braga é o pai da crônica. Ou, pelo menos, quem a elevou ao patamar onde sempre esteve o conto, que já nasceu célebre. Não importa. Para mim, os cronistas têm o mesmo prestígio e valor que os demais cultores da prosa, desde que a escrevam bem. E são inúmeros os que dignificam esta espécie de prosa, tão prosaica quanto bela e deliciosamente experimentada ao paladar literário de quem a ler ou escreve.
Aliás, a crônica tem algo de sinestésico na sua composição e leitura. Exala aromas de banho, cheira a café, ao que se antecede o sabor de um beijo refrescante. Traz melodias matinais e fotografias de um tempo qualquer. E não há forma mais docilmente descontraída para se começar o dia, do que lendo esses retratos literários do agora.
Lembro-me de que, no colégio, quando me propunham escrever algo, era da crônica que me valia como modelo às minhas divagações dissertativas. Hesitava alguns minutos rememorando algumas delas, mas já ali querendo ser livre, buscando o meu estilo individual. Bobagem. Ninguém começa a escrever incólume às influências, ou seja, aos modelos de que falei. O hábito de escrever torna-se um processo de aprendizagem contínuo, que se exercita a cada texto. Por isso, não ouso dizer: sei escrever, já que os mestres que me influenciaram sempre disseram o contrário afirmando: "Nenhum escritor está pronto." Digo que Machado de Assis fugiu à regra, para qual tornou-se a exceção. Ele foi o modelo acabado, de um escritor perfeito.
E foram esses mentores, personificados em Machado de Assis, Drummond e posteriormente Artur da Távola, entre outros, que me direcionaram em meio às incertas linhas escritas com os arroubos da adolescência. Machado, com aquele purismo gramatical a estilizar cada frase num contexto único que o tornou tão genial na crônica como no conto e no romance. Drummond, de quem, além da poesia, eu decorava frases das crônicas dele, algumas das quais impregnaram-me os vãos da memória. Eis uma delas: “A vida separa os amigos, que a morte vem juntar bruscamente" . De Arthur da Távola, eu bebia cada palavra ao doce sabor do amor no "MEVITEVENDO", primeiro livro dele a me chegar às mãos.
Hoje, sinto-me ligado à poesia, que já estava em mim como um sujeito oculto, evidenciando-se depois, quase a ocupar definitivamente o lugar da prosa. Prosa que meus cronistas favoritos nunca excederam na forma prosaica, vulgarizando o termo. Pelo contrário. A maioria deles chega a ilustrar suas crônicas com a prosa poética. Seja lá como for, inspiradora crônica, de forma prosaica e até piegas, aqui me tens de regresso.