CARNAVAL  NO RIO
 
Um pequenino grão de areia, que era um pobre sonhador,
olhando o céu viu uma estrela
e imaginou coisas de amor, ô, ô, ô!
 
Passaram anos, muitos anos,
ela no céu e ele no mar,
mas dizem que nunca o pobrezinho
pode com ela encontrar!
 
Se houve alguma coisa entre eles dois,
ninguém pode até hoje explicar...
 
O que há de verdade é que depois, muito depois
apareceu a estrela do mar...
 
      ...
Paulo Soledade e Mariano Pinto são os autores desta música brasileira.
Acordei as dez nesta sexta-feira de 19/02/09, depois de dois dias de depressão, algumas coisas que li me desanimaram e me derrubaram desprevenida que estava, ou seja, eu estava aberta ao bom e belo e suguei coisas, metáforas enganadoras e de interpretações que não são leis, mas podem fazer sentido esperançoso ou exterminador para os sensíveis que se encantam com as letras.
Ao por os pés no chão hoje, “será que a depressão passou”? Se há um sentimento que cansa, é um estado depressivo, em que o tempo não é vivido e só resta esperar que passe. Eu fui dar água aos passarinhos e às plantas... Neste fazer comecei a cantar esta canção em tons tímidos receosos com o despertar do dia, mas logo, logo, a voz foi mais poderosa sob o encanto desta música que sempre cantei com alegria, e foram tomando espaço em mim, varrendo os restantes fluidos invasores de abatimento. Eu temia até permitir-me perceber se estava num estado ainda parecido como de ontem, reabasteci o regador e mais reguei, cantando a plenos pulmões, e recantando a beleza desta poesia, absorvendo-a e sentindo o prazer da própria voz, aí já liberta criando entonações suaves de acordo com o coração do grãozinho de areia e o coração da estrela do mar.
         Escrever é confissão.
         Quando Harry Potter, na estação, para embarcar no trem que o levaria para a escola dos bruxos, e surpreendido, segue o coleguinha obedecendo à ordem de “seguir em frente” e vai de encontro a uma larga coluna de concreto, e se surpreende dela dar uma passagem só para os especiais bruxos, como ele e que não sabia do seu potencial específico, eu estava junto ao seu coração de aventura e ser, e fui junto, e junto me encantei do prazer incrível daquele feito extraordinário de viver um mundo próprio, e do outro lado, aquela alegria extasiante, num mundo diverso do comum, mas o mais compreendido pelo seu coração.
         A realidade do carnaval não é a mesma para cada pessoa. Não só o carnaval, mas toda e qualquer situação ou acontecimento para cada um. A vida de cada pessoa tem uma conotação diferente para cada evento da vida, muito relativa a si próprio. E trata tal acontecimento condicionado aos fatos e á mídia, sem liberdade de visão e de si mesmo, tantas e tais interferências vão ocorrendo ao longo dos tempos, modificando tudo numa velocidade que, se quiser alcançar e estar no mesmo ritmo das mudanças pode se tornar “um vitorioso”, mas será que viveu toda a essência da coisa? Será que não pagou um preço alto para tal esforço? Para alcançar tal patamar? Isso não é uma pergunta. É apenas uma reflexão.
         Eu vivi muitos carnavais. Fantasiava todo ano, Carnaval pra mim é, sobretudo, A ALEGRIA. Curti o tempo do lança-perfume, das serpentinas, do confete. Dançar, pular, cantar, entrosar na festa da alegria.
         A tal ponto, que até a cidade se altera com a alegria generalizada. Basicamente, o carnaval é alegria para todos.
         Mudou, viraram negócios modernos, ganhos de dinheiro, bandalheira, politicagem, momento oportuno de cometer crimes desejados, de viver o que é proibido e que é o mais intenso desejo de realizar, sofreu grandes transformações. Mas a Marquês de Sapucaí, o Sambódromo de Brizola, Darcy e Niemayer continua sendo um espetáculo já famoso no mundo todo. Por maiores que sejam as modificações o Carnaval continua sendo o melhor do mundo.
E, ao lado das mudanças condenáveis, o espetáculo é cheio de arte, de criatividade, sadia competição e alegria das Escolas de Samba do Rio. Música, Dançar. Rebolar. Cantar. Gritar. Sambar. Rir, rir.
         A bateria. Há coisa mais dinâmica que a bateria?                      Este é o ponto alto da festa do carnaval do Rio. Quem pode ficar inerte quando ela começa? Quem?
         E a paradinha? A paradinha é um instante mágico, no qual, a um mínimo sinal do maestro da bateria que, quando ela atinge o máximo de intensidade do ritmo de todos os instrumentos, dos tambores, os chocalhos, a cuíca, de todos os instrumentos que a compõem, ao sinal param todos, num passe de mágica, que nem se respira, e a outro sinal, continuam com o estrondo continuado como se nem fora interrompido. É fantástico. Alegria só tem no Brasil.
         Paralelamente ao Carnaval Oficial do Sambódromo, que ficou inacessível a muitos cariocas, o povão, o pessoal dos bairros, há muitas bandas com suas baterias também, organizam uma passeata com um trajeto programado. Nestes é pura alegria de existir de dançar e cantar, com muita cerveja, e a banda tocando com bateria também. Na internet tem esta programação com os dias marcados, o roteiro da ida e da volta, a concentração dos diversos clubes ou bandas, etc. São uma espécie de clubes ou seus substitutos. O carioca gosta e sabe sambar, ser alegre, superar tudo com humor. É lindo mesmo tudo isso. Eu não participo diretamente mais, que estou virando escritora, mas meus filhos com seus amigos e colegas de trabalho vão se encontrar no “Cordão do Bola Preta”.
         As ruas da cidade estão alegres, é contagiante.
         Mas tem dia, que a gente esquece de sair de casa.