Lá em Códo
Foi numa leitura que me deparei com obra de humanos notáveis. Elas se dão, dentre várias partes do mundo, lá no Maranhão e Pernambuco. E aí você fica sabendo que a mulher que deixou cidade pequena por uma que fosse grande, em busca de dias melhores, conseguiu no máximo trabalhar como doméstica. Noticiada sobre as obras de uma ONG em sua cidade natal, voltou e se voluntariou. Hoje é uma das líderes de trabalhos em prol da população local. Daí você calcula o que ocorreu na autoestima dessa mulher. Fato este que considero extraordinário, digno de arrancar uma lágrima dos olhos, como quase o fez comigo.
Em toda a minha existência, até aqui, voluntarismo que fiz foi apenas pegar papel em via pública e dar o lixo como destino, mas que teria sido mais nobre levá-lo para reciclagem. Agora, algum comprometimento com trabalho voluntário de ajuda ao próximo, não fiz. Embora ainda pense em fazer, sigo limitado às pequenas doações, muitas vezes feitas mais por culpa do que boa vontade.
Mas lá no Nordeste, nos dois estados já mencionados, a própria população, orientada pela ONG Plan, trabalha para mudar sua realidade bastante distinta das pessoas de classe média aqui do Sudeste.
O fato é que dá vontade de ir lá para ver as obras de perto. Talvez haja um hotel ou pousada em Codó, no Maranhão, que abrigue forasteiro de São Paulo, um pouco cansado de outros seres humanos preocupados apenas com seus castelos. Recordo-me até de um conhecido que despejou em mim conquistas materiais, entre as quais seu salário, e até valorando sua namorada como "filé". Não se tratava apenas de comportamento competitivo, mas algo também exibicionista. Claro que me aborreci com o rapaz, mas hoje o vejo como um produto dessa sociedade individualista e consumista. Alguém que se vitima sem saber. Que talvez caminhe para o abraço com a infelicidade.
Voltemos para o Nordeste. A gente sabe que muitos se retiram de lá das pequeninas e subdesenvolvidas cidades em direção às capitais variadas para serem massacrados por moradores como nós, que vivem em melhores condições de vida. Hoje, no centro velho de São Paulo, vi um jovem rapaz que trabalhava com cartaz no corpo, anunciando vagas de emprego. Calculei que ele pudesse ser um migrante de alguma região pobre. Pensei comigo sobre o desprezo da cidade para com ele. Sua possível realidade que o fere dia a dia. Mas é claro, não poderia saber ao certo. A pele é dele, não é minha. Escrever é bem mais fácil.
Talvez eu faça alarde e essas simples pessoas sejam mais felizes que inúmeras outras engravatas, cheias de pressa e compromissos. Mergulhadas em grande estresse, muitas sucumbem aos problemas emocionais.
Possivelmente lá em Codó haja gente mais feliz, que constrói futuros, orgulhosas das transformações de realidades suas e dos outros. Gente que, segundo a edição 1 de julho de 2008 da revista Plan, cria raízes nos lugares onde nasceram, sendo que algumas delas retornam por saber que agora não é mais como dantes. Se ainda há dificuldades e problemas a resolver, elas têm o que é imprescindível para o ser humano almejar felicidade: perspectivas.
Vale relatar que as conquistas destas populações se dão pela organização de pessoas, orientadas pela Plan, que juntas pressionam prefeituras para esta ou aquela melhoria. Além disso, poder público e terceiro setor trabalham em parceria com resultados positivos para os moradores. Trabalhos que se dão nos campos da saúde, educação, esporte, formas de geração de renda, entre outros. Parceria perfeita que fiquei sabendo a partir de uma leitura feita às 2h da manhã. E para que pudesse fazê-la bastou simples clique no anúncio da ONG, quando simplesmente era feita uma visita a um blog por indicação de um amigo. Um inesperado que me trouxe belas informações. Neste mundo há trabalhos inteligentes e sustentáveis, que respeitam a dignidade do ser humano. A frase feita que cabe aqui é "nem tudo está perdido".