A INVASÃO BESTIAL
Percorri diariamente, durante algum tempo, um trecho de aproximadamente 30 km na BR 101 “não duplicada”. De todos os fatos e ocorrências que presenciei, um particularmente, me proporcionou a clarividência da bestialidade humana.
Dirijo um carro exatamente igual ao da besta em questão. Com a primeira diferença de que o meu é branco e o da besta é vermelho. Com a segunda diferença de que o meu velocímetro fica na média de 80 km por hora e isto irrita o velocímetro da besta. Com a terceira diferença de que eu amo a minha vida e respeito a vida dos outros e, a besta, ao que parece, ignora a importância da sua vida, quem dirá da dos outros.
Nem precisaria dizer que a besta me ultrapassou e foi ultrapassando todos os carros que seguiam à minha frente. E enquanto fazia isto, foi colocando um a um, cada carro da imensa fila que vinha no sentido contrário, para o acostamento. A maioria dos motoristas demonstrou a sua indignação com um inocente piscar de faróis.
Terminei o percurso para o qual seguia e já até havia esquecido do acontecimento, quando para minha surpresa, na primeira rótula em que tive que parar... Quem eu vejo na minha frente? A besta e o seu carro vermelho. Conclusão: chegamos juntos, eu e ela. Exatamente na mesma hora, no mesmo minuto, apenas em segundos diferentes. Quarta diferença: a besta era homem. Quinta diferença: eu achei graça da situação e ele devia estar tenso demais para sorrir.
Está estatisticamente comprovado que a bestialidade humana é responsável por 90% das fatalidades, das catástrofes, do extermínio, da extinção, da morte. Na ilusão de que o poder supremo advém de Deus todo poderoso, o homem vai ceifando a vida por onde passa e onde se instala, na esperança de que o papai do céu dê um jeitinho no final da contas.
As provas disto bóiam nos esgotos a céu aberto que correm em direção ao mar e aos rios. Nas latas e papéis que voam pelas janelas dos carros. Nas casas que surgem do nada sobre as dunas. Nas dunas que desaparecem do dia para noite, de noite ou de dia. Na fumaça que sufoca o oxigênio e aumenta o buraco na camada de ozônio e no nosso futuro. No derrame inconseqüente de água que, apesar de parecer infinita, está com os dias contados. Nos carros que, em sua velocidade e inconseqüência, põem fim às vidas.
O dossiê está pronto e a ele juntam-se mais provas a cada dia de que, o ser humano é o maior culpado pelo seu próprio fim. Psiquiatricamente falando, o ser, dito racional, nada mais é do que um psicopata-suicida. É claro que há exceção para cada regra. Você se considera uma? Eu também. Mas fica aqui o meu temor: “Nesta invasão bestial que o planeta sofre, não corremos o risco de sermos infectados?”
Diretamente do Aurélio: Besta; pessoa muito curta de inteligência.