RECORDAÇÕES DO 25 DE ABRIL DE 1974 - DIA DA LIBERDADE
Estava uma manhã linda de primavera, com aquele leve manto de neblina que dava um ar suave ás árvores e ruas da minha cidade, enquanto me encaminhava a pé para o trabalho, como habitualmente.
No entanto havia algo estranho no ar...uma expectativa, um silêncio, como se tudo esperasse uma mudança inevitável e anunciada desde há muito.
De repente na minha caminhada, algo chamou-me a atenção, um troar longínquo e bem alto de motores de aviões em formação que se deslocavam velozmente.
Á chegada ao trabalho, os colegas sentiam a mesma atmosfera de expectativa e estavam inquietos, indo á varanda envidraçada do primeiro andar do prédio antigo onde estava situado o escritório, e procurando na rua estreita, alguém ou algo que fornecesse respostas.
Em frente havia uma pastelaria, onde habitualmente íamos beber o café da manhã e alguém disse que parece que tinha havido uma revolução, e que as tropas tinham ido para Lisboa.
Na excitação de tal notícia, já pouco trabalhámos durante a manhã, procurando ouvir a rádio para saber notícias ou descendo á rua para falarmos com as pessoas que passavam.
Até que chegou o chefe, e confirmou que era verdade, que estava uma revolução em marcha e que podíamos ir para casa até se saber o que ia acontecer.
Então fomos para casa e ficámos colados aos rádios e aparelhos de TV, vendo os nossos valorosos soldados comandados pelo nosso querido capitão Salgueiro Maia, ir tomando rua após rua, quartéis e ministérios, até á rendição final do chefe do governo.
Das armas enfeitadas com cravos vermelhos, nenhum tiro foi disparado, graças á estratégia desse célebre capitão que saiu durante a madrugada á frente das colunas, da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, minha cidade, em direcção a Lisboa para restituir a liberdade a um povo amordaçado.
Do resto fala a história, apenas quis recordar como vi esse primeiro dia 25 de Abril, aos meus 17 anos de idade.
Arlete Piedade