Para Zélia,com amor
Acordei hoje,muito mais cedo que de costume,inspirada e com vontade de contar uma história com muito amor para consolar a Zélia Maria Freire,querida poetisa aqui do Recanto,que perdeu seu peixinho de estimação.
Espero que você goste,amiga.Beijos no teu coração!
Bruno
"O nome não importava,nem sua cor ou seu tamanho.O importante é que ela o acolhera!Tirou-o do mundo sem graça da loja de animais e o levou para ser seu companheiro,o que ele evidentemente foi.Desempenhou seu papel com louvor e honra!
Vivia num aquário só seu que chamava de reino.Como um bom rapaz brincalhão que era,não se preocupava com nada,tudo lhe era dado,a ração era de primeira,assim como o tratamento que davam a sua água.
Amava brincar com as pedrinhas no fundo,revolvendo-as com o lábio bicudo,abocanhando e jogando longe!Assim como um menino joga bola,Bruno jogava as pedrinhas de lá para cá,fazendo uma bagunça que alegrava quem assistia,mesmo sem fazer gols!Perseguia as bolhas que lhe saíam da boca quando entediado.Contava uma a uma,antes de estourá-las na superfície da água.
Mais do que tudo,Bruno amava a ela!A doce e gentil pessoa se aproximava do seu reino pela manhã e dizia -"Bom dia!"E depois de perguntar como ele passara a noite,o alimentava,enquanto lhe contava alguma novidade.Ela falava de suas preocupações,contava histórias engraçadas,ria e perguntava a ele onde é que tinha posto os óculos ou simplesmente não dizia nada,só dividiam espaço.E ela era a última visão que tinha antes de ir dormir,pois não dispensava lhe dar -"Boa noite!"E era tão bom!
Com ela aprendeu sobre o mundo e muito viajou sem sair do lugar!Ela lhe mostrava imagens em seu computador,contava as novidades descobertas na internet,comentando com ele,recordando viagens,lendo poesias de Lord Byron,Clarice Lispector e contos que gostava do tal Recanto das Letras em voz alta,vendo as fotos dos amigos e familiares queridos,que ele reconhecia também.Principalmente reconhecia as crianças,que quando vinham na casa,faziam-lhe uma visitinha,sempre batendo no vidro e aproximando o rosto curioso mais que necessário do vidro que separava seus mundos!
E foi seu maior incentivo e parceiro em muitos poemas,inspirou rimas e deu aquela ajudinha necessária para completar algumas quando o tal "branco" surgia do nada.Era só ela parar,olhar para ele,trocar umas palavrinhas que o tal branco desaparecia!
Dizem que peixe não fala.Bruno não falava mais pensava e sentia!E,como Chaplin,era tão eloquente em seu silêncio que ela dividia seus segredos com ele,abria seu coração apenas no olhar,e ele compreendia tudo...Fazia coisas do seu jeito para que ela notasse que ele sabia!Chegava sempre o mais perto dela possível quando ela entrava na sala,abanava a bela cauda como os cães saudam seus donos.
Bruno só não soube explicar porque precisou partir tão bruscamente!Sabe da dor da saudade dela,afinal não foi "bichinho",foi seu
companheiro de estimação!Mas espera que ela o perdoe...Mesmo os peixes mais amados tem um tempo certo de permanecer conosco,que a natureza,que é severa e não aceita "jeitinhos",impõe e cumpre desde o início da Criação.Feliz,como foi sempre ao seu lado,Bruno foi nadar num oceano tão grande quanto o que ele viu na tela junto com ela,pois assim deve ser o Céu dos peixes."