GLOBALIZAMOS A ESPERANÇA!

Oito horas da manhã. Dia frio. Na calçada em frente ao teatro Guaíra, em Curitiba, um volumoso grupo de pessoas encasacadas e fotográfos aguardam. No outro lado, trabalhadores rurais desembarcam dos inúmeros ônibus do MST com bandeiras, cruzam a rua rapidamente e entram no teatro. O trânsito está congestionado e policiais tentam organizar a parada dos ônibus. Buzinas. O resto é um murmurinho quase silencioso, silêncio das expectativas.

Passo tentando compor as fronteiras. Talvez uma manifestação... Mais alguns passos com o pensamento tentando decifrar as imagens e me lembro da presença de Hugo Chávez em Curitiba. A rotina é distorcida pela irresitível vontade de viver os movimentos sociais e ouvir as palavras do presidente venezuelano.

Ao entrar na sala de espetáculos, percebo o brilho das peças individuais quando são compostas por interesses coletivos. O teatro está lotado. Um dia de gala. No palco, um cantor violonista compartilha as músicas da luta em castelhano e português, a platéia acompanha com cantos e palmas, nos intervalos, o músico grita: “Gobalizamos a luta!” Todos respondem com o punho para o ar: “Gobalizamos a esperança!”

Um mesa situada no centro do palco é sombreada pelos movimentos das enormes bandeiras da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Alegria, expectativa, inquietação... Hugo Chávez e o governador do Paraná estão atrasados para o lançamento do Manifesto das Américas em Defesa da Natureza e da Diversidade Biológica e Cultural.

Durante a espera, o manifesto é lido e debatido. O combate às sementes Terminators (estéreis) e à introdução de organismos transgênicos no ambiente; propostas de conservar a diversidade biológica e cultural e a implantação de políticas articuladas que visem garantir a integridades e a beleza dos ecossistemas, são alguns dos itens do manifesto.

Hugo Chávez chega e é ovacionado. O hino do MST de autoria do poeta Ademar Bogo é cantado num grande balé de bandeiras. O cansaço é esquecido ante a presença carismática do líder venezuelano. Ele responde aos apelos do público, canta o hino, assina o manifesto e discursa para a platéia entusiasmada, com citações de Victor Hugo, Sartre e Mao tsé Tung. Suas palavras dão luz às lutas, como se mimassem a esperança tão esquecida nos sentimentos que embotam na indignação e descrença.

Globalizamos a luta! Globalizamos a esperança!

Hugo Chávez destaca os avanços da ALBA (Tratado entre Venezuela e Cuba) que irá completar um ano no final de abril (27/28) e afirma que o caminho possível para os povos da América Latina é a união contra a praga genocida do Império.

Na última fileira do teatro, um bebê repousa sobre as pernas de sua mãe, uma jovem trabalhadora rural. Durante todo o discurso, ele olha para a mãe, suas mãozinhas inquietas fazem movimentos circulares no ventre e suas pernas passeiam no corpo da progenitora.

O bebê é um menino de quatro meses chamado Ernesto. A esperança está na pequena semente que rompe o mundo com idealismo.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 24/04/2006
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